As
paredes seculares da Igreja de Santo Expedito, no centro da cidade, servem de
apoio para as costas do nosso personagem que, contrariando o comum, forra o
chão com um plástico espesso e veste-se com roupas aparentemente limpas.
As
muletas na calçada ao lado das pernas em desalinho nos falam de sua
deficiência. Observo que tem algo nas mãos e os fios plugados ao seu ouvido me
dizem que está antenado à modernidade.E eu me pergunto o que leva uma pessoa, só pelo fato de ter as pernas inertes, tornar-se alvo da caridade pública.
De
imediato trago-o aos nossos dias, às nossas atitudes de meros pedintes que nos
tornamos ao expormos nossas feridas morais, nossas deficiências afetivas à
piedade alheia, forçando nossos irmãos planetários apiedarem-se de nós,
estendendo-nos sua atenção e tempo preciosos em função dos nossos problemas,
como se a falta de algo ou de alguém nos impedisse de trabalhar em prol do
nosso próprio crescimento, maturidade e independência.
Tomemos
o exemplo do físico britânico Stephen Hawking a quem a vida retirou quase tudo
deixando-lhe intacta a inteligência. E ele, recusando-se ao papel de pedinte, fez-se
gerente da empresa de sua própria vida, superando a si mesmo e servindo à
humanidade com suas contribuições científicas.