segunda-feira, 26 de maio de 2014

Palavra Divina



Assim que Jesus pronunciou
a divina palavra Amor
estremeceram-se alguns corações
que nunca mais seriam os mesmos
após as suas exortações.
                               
"Amai-vos uns aos outros
 como eu vos amei."
"Perdoai os vossos inimigos
 como eu vos perdoei"
                               
 Amor, palavra divina,
 resumo e essência 
 da Sua Doutrina.

sábado, 10 de maio de 2014

Artes e artimanhas



(continuação)

Durante os preparativos para o tão ansiado Curso de Esperanto, Brux convidou-me para ir com ela ao Empório e comprar algumas coisas para o lanche dos futuros alunos.

Foi então que tive a oportunidade de conhecer o lado moleque daquela bruxa tão discreta e compenetrada.

Em meio àquele lugar tão prazeroso uma cena desagradável ocorreu:

Uma mulher acompanhada de duas crianças que a chamavam de mãe iniciou uma baixaria no estabelecimento! Falava alto e xingava as crianças que choravam baixinho diante daquela atitude inqualificável e injusta contra seres tão indefesos.

Brux fez um gesto bem discreto, balbuciou alguma coisa que não entendi, numa linguagem cabalística, e em instantes a criatura, antes tão gritante, fazia uma mímica ridícula, ficando completamente sem voz!
Todos os presentes riram-se da cena inesperada e Brux apenas sorriu com o olhar e, aproximando-se de mim, disse baixinho:

- Amanhã ela fala outra vez. É só um susto para ela pensar um pouquinho. Depois, as bruxas é que são ruins...


Eu tive vontade de rir sem parar daquilo tudo, mas, por educação, fiquei quieta.

Ao voltarmos para o Casarão, vimos, através de um muro gradeado, muitas gaiolas penduradas e pássaros tão lindos olhando o céu azul sem poder galga-lo como lhes permitiu o Criador. Pássaros foram feitos para voar e não para ficarem confinados numa gaiola tão feia, pequena e triste...

Brux parou em frente à casa, pegou um galhinho seco de imbira que trazia em sua inseparável bolsinha, desenhou uma gaiola no chão, e abaixando-se apagou a parte corresponde à porta da gaiola.

Uma a uma, as gaiolas foram se abrindo e os pássaros voltaram à imensidão.
- Vamos? Disse ela na maior naturalidade. E tomamos o caminho do Casarão.

Ainda na rua, pude ver mais um fato curioso:

Um homem que conduzia uma carroça maltratava tanto o cavalo que o servia, que Brux indignou-se e fez o braço que chicoteava o pobre animal ficar duro e suspenso no ar sem conseguir movimentar-se para maltratar quem lhe prestava benefícios tão valiosos!

Ficou lá o infeliz, com o braço absolutamente esticado como se estivesse apontando para o céu.
Os soldados de plantão no quartel próximo dali riam... riam muito pela situação inusitada.

E o casal que brigava sem parar sob a marquise de uma loja de materiais de construção? Pois não é que a danadinha da feiticeira fez aparecer um balde com água sobre a marquise? E o resultado vocês imaginam, não é?

Bom, mas ao longe soou um latido muito familiar à nossa Bruxinha justiceira. Era Nashe, a cadelinha encantada da Fada Niath que precisou vir em auxílio de sua protegida.

- Brux! Você não pode interferir na vida das pessoas dessa maneira, minha querida. Disse a pequena Fada com toda ternura desse mundo...

- Não consigo ficar indiferente diante de tanta injustiça, Niath. Você sabe.

- Eu sei e por isso mesmo o Mago Estelar me pediu que viesse em seu lugar porque ele precisou viajar para longe, mas não queria deixá-la sem a nossa proteção e você conhece muito bem as regras, os mandamentos da nossa Comunidade... as Leis são rígidas e têm suas razões de ser. Desfaça o que você fez para que seus méritos não sejam anulados, minha amiga.

Brux abaixou o olhar e ainda que um pouco a contragosto, obedeceu àquele ser que ela tanto amava.

Nashe ficou tão radiante que ao invés de andar como um quadrúpede que era, passou a andar naturalmente apoiada apenas nas patinhas traseiras! Todos achamos a maior graça, devido ao seu movimento contínuo, parecendo dançar uma música que apenas ela ouvia.

Voltamos juntos ao Casarão e Brux, apresentando Niath a todos, seguiu sozinha para o seu quarto. Precisava ficar só um pouco. Deixar-se levar pelas emoções resultava nisso: um cansaço! Ela precisava retomar seu velho autodomínio.

Dia seguinte, todos reunidos para o saboroso café da manhã e Brux, após cumprimentar a todos com seu olhar especial, disse no seu jeito de sempre:

- Podemos marcar a inauguração do Curso para o início da semana que vem?

- Por quê, Brux? Perguntou Flor, já sentindo a razão no ar.

- Não responda uma pergunta com outra. Podemos ou não?

- Se assim forr da vontade de Madame, non vejo razón porr adiarr mais, acrescentou Colibri com sua elegância característica.

- Então, combinado. Vou expedir os convites e, logo após a inauguração, retorno ao meu mundo.

- Eu sabia! Você nunca fica tanto tempo com a gente... parece que nem gosta da nossa companhia – choramingou Flor.

- Você sabe que não se trata disso - disse ela, abraçando a pequena Flor que se surpreendeu com o gesto da feiticeira, sempre tão reservada em suas atitudes...

- Na verdade não podemos permanecer muito tempo no mesmo lugar, porque temos muitas tarefas a cumprir em locais diferentes, Florzinha, acrescentou a Fada Niath num sorriso luminoso.
Atraídos por toda aquela vibração tão harmoniosa e bela, os animais rodearam a todos os presentes como se executassem uma dança misteriosa e tão encantadora, que até os pássaros da vizinhança pousaram sobre as janelas do casarão, à guisa de espectadores curiosos.

Nashe, mais uma vez, sobre as patinhas traseiras, rodopiava graciosa e interativa com todos os presentes, como a querer transmitir a cada um em especial, todo o seu carinho.

Engraçado, eu cresci ouvindo contar histórias tão escabrosas sobre bruxas; no entanto aquela era diferente. Seria alguma irmã da Bruxinha Boa de Maria Clara Machado? Quem sabe? Se o impossível torna-se possível no dizer dos Santos, por que não para os esperançosos também?

Nos dias subsequentes, o trabalho foi intenso no Casarão, que virou uma espécie de correio central de onde eram expedidos os convites para a inauguração do Curso de Esperanto, a calhar, no dia das Bruxas...
E, no dia aprazado, o Casarão ficou uma beleza! Vieram dos pontos mais diferentes do mundo da Literatura: Castor, Dália, a Flor do espelho; Luma, Maria da Luz, PatroMestre Esperanto, Florzinha e  Verbum do Conto No reino das mil e uma palavras sem fim de Nazaré Laroca; vieram a Pedra da Fonte e seu Pescador, Vlap, o morceguinho curioso, Gaia e seu Pelicano fotógrafo, Amarantes e seus porquinhos adestrados, Nico e Neco...

Todos perfeitamente acomodados e Brux, tomando a palavra, anunciou:

- Hoje é um dia histórico para a Comunidade dos Seres Encantados. Nosso objetivo é oferecer a todos, as noções da Língua Internacional neutra, Esperanto, criada pelo Doutor Lázaro Luiz Zamenhof, um ser encantador, para que todos pudessem comunicar-se sem restrições.
E eu convidei uma pessoa muito especial para cuidar do nosso projeto que espero ser permanente em nosso espaço: a Dra. Zan!

E todos ao seu modo, saudaram a Dra. Zan, sempre munida com sua varinha especial que soltava uma tinta vermelha - a caneta - que Brux abominava, mas cada um usa o poder que adquire e até mesmo as Fadas e Bruxas precisam aceitar essas outras magias que elas não dominam ainda...

A Dra. Zan tomou o seu lugar, agradeceu o convite e a presença de todos e, muito séria, começou a falar do Esperanto e do seu mecanismo. Mas, como aquele era um ambiente mágico, ela, a princípio, espantou-se um pouco ao perceber que a lousa tomava um aspecto diferente a cada vez que ela apontava para a mesma ou tentava escrever... é que não era necessário tocar no quadro! As letras desenhavam-se apenas com o pensamento da mestra. Passada a surpresa, ela achou até bom aquele recurso porque facilitava bastante a evolução da aula, tornando-a tão prática e dinâmica como o próprio idioma o é.

Como se tratava de uma clientela muito diferente daquela com que a professora fora acostumada a lidar a vida inteira, ela percebeu logo que deveria usar os mais variados métodos de ensino para atingir seus objetivos sem entediar a plateia. E a convite seu, Música, Poesia, Teatro e Fotografia apresentaram as suas medidas facilitadoras servindo como mediadores daquela dedicada professora cujo maior mérito era amar o que fazia. Eis aí o segredo dos grandes mestres: a paixão pelo que fazem.

Os Substantivos, em gracioso bailado, para demonstrar a maneira como eram realizados, convidaram a vogal /O/ para intermediá-los. E os passos entrecruzavam-se em sequência: Arb-O; Stel-O; Mar-O; River-O.

E os espectadores aprenderam de uma maneira deveras interessante que as palavras desta categoria terminavam com a letra O.

Os Adjetivos repetiram a mesma coreografia, mas convidaram a vogal A como intermediária. E os passos entrecruzavam-se na seqüência: Bel-A; Bril-A; Fort-A; Rapid-A.

E a compreensão fez-se imediata para mais uma regra do Esperanto pela qual todos os Adjetivos terminam em A.

A Dr-a Zan desejou saber como era a tonicidade daquela língua. E como neste idioma as cinco vogais estão presentes o tempo todo, as palavrinhas organizaram-se em grupos que à maneira de graciosos saltimbancos, pulavam mais alto quando a sílaba tônica se apresentava. Os tambores marcavam a cadência ritmada, gostosa da pronúncia do Esperanto. E assim todos víamos a seguinte cena:

Es-pe-RAN-to; ri-VE-ro; ra-PI-da; FOR-ta...

E a nossa Doutora compreendeu e comentou comigo que a tonicidade se dava sempre na antepenúltima sílaba. Genial o Dr Zamenhof!

Realmente, Brux estava coberta de razão ao dizer que esta é uma língua mágica. Ela recebe e merece de nós todos os adjetivos, mas este é o que melhor se enquadra, se ajusta para defini-la.

Seguiram-se os Verbos e a vogal I foi a grande convidada como parceira vigorosa e solícita na encantadora coreografia.
Parol-I; Vid-I; Salt-I; Danc-I; Kur-i; Kis-I...

Todos estávamos maravilhados com aquele espetáculo inesquecível para cada de um nós ali presentes.

Para cada uma das dezesseis regras do Fundamento, algo caracterizado pela Arte foi apresentado, e quem me lê e é esperantista sabe muito bem do que falo. Aos que ainda não conhecem o Esperanto fica o convite, claro!

E Brux?
Ficou a pergunta no ar.
Onde estaria a feiticeira misteriosa? 

Fui encontrá-la na Biblioteca. Estava pensativa e havia algo diferente em sua expressão.
Permaneci em silêncio porque conhecia o modo de ser daquele ente tão especial para mim, mas sabia que o adeus estava perto.

- Não gosto de despedidas.
- Eu sei. Posso pedir um favor?
- Claro.
- Dá notícias.
- Adiaŭ.
- Adeus. Dankon.

Quando nos veremos outra vez só ela pode dizer, mas certamente já estou com saudade da minha grande amiga que mora pertinho das estrelas...
Ao ver a minha tristeza, a Fada Niath cochichou num sorriso: ela volta.

- Mas eu a senti tão diferente... cheguei sentir um aperto no coração ao vê-la partir.

- Você consegue guardar um segredo?

- Claro!

- Brux está apaixonada. Mas ela volta para narrar a sua experiência, amorosa, eu garanto.

- Estranho! Nunca ouvi dizer que bruxas se apaixonassem...

- Mas Brux é especial e eu tenho certeza que sua história de amor vai ser muito emocionante.

- Será que vai ter um final feliz, Fada Niath?

- Isso só a próxima história dirá. E para se saber é preciso enviar uma grande quantidade de cartas para a terceira estrela ao lado direito da Lua Nova

- Mas como se faz isso?


- Simples. Envie aos cuidados da dona do blog que ela fará chegar às mãos de Brux em segurança.


quinta-feira, 1 de maio de 2014

Brux e o Esperanto


                           
                                     
Sobre a mesa da sala o envelope selado com a patinha de gato.
Brux... Sempre enigmática.
Na mensagem telegráfica a pista:  

                               NOVIDADES.   

Guardei o envelope e fui cuidar de outros afazeres na certeza de que a qualquer momento deixaria tudo para acompanhar a minha velha amiga nas suas aventuras pitorescas. Fui às compras e, quando voltei, novo envelope desta vez preso no mensageiro dos ventos que brinca na moldura da divisória entre a sala e a cozinha.

                              AMANHÃ ÀS 9h NO C.E

Precisava arrumar tudo a partir de agora porque Brux, imprevisível como era, queria tudo para ontem e achei até bom que Insônia me desse uma mãozinha, enquanto eu organizava a bagagem que precisaria levar além do caderno e lápis, indispensáveis para mim, onde quer que eu vá.
Era uma excitação natural que antecedia à chegada de Brux que trazia para mim, a aventura, a história, os sonhos...

Original, criativa, uma revolução no meu cotidiano sem graça e sem grandes perspectivas.

Dia seguinte, nove horas em ponto, lá estava eu em frente ao antigo e charmoso casarão, hoje Centro Esotérico. Lindo!

O prazer dos reencontros! O casal Flor e Colibri, cujo casamento tinha sido realizado por ela mesma; Ariosto, seu gato negro como a noite que a seguia como um cãozinho fiel; Avínia, a corujinha conselheira que, pousada em seu ombro, nas grandes ocasiões emprestava-lhe um ar de sacerdotisa grega, a própria Brux, enigmática e misteriosa como sempre, e eu que crescia em admiração a cada dia pela originalidade e a amorosidade da feiticeira com os seus companheirinhos de estimação que, uma vez adotados por ela, apesar de possuírem características especiais, eram tratados e respeitados em suas condições de animais mesmo e talvez aí estivesse a chave do grande carinho e fidelidade que lhe davam em troca.

Na cozinha ampla com fogão a lenha, cortininha na janela e mesa comprida, a gente permaneceu um bom tempo cada qual a falar de suas lembranças mais queridas, pequenas relíquias guardadas na caixinha da memória.
Brux apenas observava. No momento em que Silêncio, seu convidado de honra chegou, ela aproveitou para falar.

- Obrigada por aceitarem meu convite.
- É sempre um prazer para nós a sua visita, Brux querida, disse Flor, a anfitrã, emocionada.

O Casarão, hoje transformado em Centro Esotérico, tinha sido moradia de Brux durante muitos anos e ficara sob sua administração, quando Brux, após realizar a cerimônia de seu casamento* com um charmoso arquiteto francês, viajou para sua morada na Lua Nova.

- Seus aposentos e nossos corrações estão semprre à sua esperra, Madame! Venha mais vezes. Era o Colibri, eterno amado de Flor cujo sotaque francês não conseguiu perder.

Brux sorriu com o olhar.

- Introduzir o Esperanto no Setor dos Cursos permanentes do C.E é  meu projeto. Andei pesquisando sobre esse idioma e observei que ele tem um quê de magia fascinante! E onde tem magia... eu estou por perto para aprender. Mas proponho uma votação secreta.

E dizendo isso fez surgir diante de todos, graciosos quadradinhos de papel, potinhos de tinha, pincéis variados para o registro de escolha.
Enquanto a votação transcorria, ela foi visitar a sua sala de aula preferida: o quintal do Casarão, onde ouvia e via com prazer, as lições da Natureza, grande mestra de todos nós.

E na mesa do laboratório, quer dizer da cozinha, ficamos todos envolvidos com a responsabilidade da escolha.

Todos votamos.

Ariosto molhou a patinha na tinta e carimbou no papelzinho.
Tenor, o sapinho que adorava cantar, repetiu o gesto do companheiro e a corujinha Avínia, preferiu molhar seu biquinho e deixar sobre o papelito seu carimbo diferente. Uma graça!
Flor escreveu um SIM com uma estrelinha no lugar do pingo do i.
Colibri desenhou um SIM em forma de flor e eu, por minha vez, usei um coração para emoldurar o meu SIM ao Esperanto.
Até o Silêncio votou! molhando o papelzinho no pote de tinta verde.
Não ficando desta forma, papel algum em branco o que significaria NÃO ao projeto.

Brux voltou. Deteve-se na soleira da porta com sua naturalidade silenciosa e ao invés de olhar os papéis, como seria de se esperar, olhou em nossos olhos diretamente e isso, sem a menor pressa.

Todos sustentamos o olhar da feiticeira que, surpreendente, desenhou no ar a frase encantadora:
                    
                   MUITO OBRIGADA PELO VOTO POSITIVO

Mas teve um personagem que ficou com ciúmes do nosso evento e como reação decidiu simplesmente sumir!

Muitas vezes nos entusiasmamos tanto com o vinho servido por Alegria que acabamos nos esquecendo de gente ou seres muito importantes na nossa vida.

Até mesmo Brux que era tão detalhista, que parecia ter sempre tudo sob controle esqueceu-se de convidá-la para a votação.
E agora?

O ruído da porta batendo com força fez com que a alegre reunião fosse interrompida deixando no ar uma preocupação e uma pergunta.
Foi uma correria em todas as direções para averiguação do fato e, ao chegarmos todos juntos no salão de entrada, vimos uma tabuleta com a seguinte mensagem:

                                    INGRATOS

Brux demonstrou um ar de preocupação que eu jamais vira. Levou o polegar e o dedo médio entre as sobrancelhas, semicerrou os olhos, inspirou profundamente buscando o equilíbrio para clarificar a mente e organizar o pensamento. Em seguida aproximou-se do papel tocando-o sem pressa, como a buscar-lhe a vibração ali impressa.

- Continuem a busca, por favor.

Saímos todos em busca da desaparecida. O casarão oferecia muitos esconderijos tanto no interior quanto no exterior e vasculhamos todos os ângulos possíveis. Em vão.

Brux postou-se próximo à porta de entrada, onde o bilhete fora fixado e, como se fosse uma antena buscou aumentar seu campo de percepção.
Seus ouvidos apurados captaram sons abafados de soluços vindos do seu antigo quarto. Por que não pensara nisso antes?

Levitou pela escadaria e abriu a porta deixando seu olhar percorrer o  amplo aposento e pousar como uma águia imponente sobre a arca blindada que era onde ela escondia muito bem escondido, suas frustrações, os problemas ainda não resolvidos, as angústias sentidas, os dardos envenenados das críticas, algumas mágoas e mesmo a raiva, muitas vezes inevitável, ela costumava ocultar ali. E blindou a arca como que a proteger-se daquelas situações e sentimentos tão comuns a todos nós, inclusive a uma bruxa! Blindava a arca para não ser atormentada nem atormentar a quem quer que fosse! Que feiticeira!

Pois foi exatamente ali naquele lugarzinho que a Vassourinha-vetor se escondeu acreditando que Brux não a encontraria. Na verdade, quem se esconde sempre deixa uma pista para ser encontrado e isso não tem mistério algum. E se esse é um fato tão comum aos simples mortais, por que não aos entes encantados?

E porque ali se encontrasse um ente tão querido e indispensável em sua vida ela envolveu a arca com um sentimento de afeto tão intenso que desfez a energia estática que tornava nocivo aquele simples objeto.
Só então a arca foi aberta e ouvimos Brux:

- Como eu poderia ficar sem você, Magrinha? Isso seria o mesmo que parar de trabalhar, de ajudar a quem precisa, interromper o tráfego das minhas viagens e isso eu não pretendo fazer tão cedo.               

A Vassourinha-vetor ergueu-se, olhou para todos nós e depois encarando diretamente nos olhos de sua piloto disse contida:

- Por que você me excluiu da votação?

- Não te excluí. Foi apenas um esquecimento da minha parte. Não mereço desculpas por um ato comum a qualquer pessoa?

- Mas você não é uma pessoa...

- Não?! Sou o que, então?

- Ora, você é uma bruxa!

- E você acha mesmo que as bruxas não são gente?

- Acho.

- O que você quer para acabar com esse amuo todo? Como bruxa, tenho que lembrar a você que paciência não é o meu forte.

- Quero votar também.

Todos nós sorrimos aliviados diante do final daquele episódio que ninguém esperava.
A Vassourinha escolheu a cor laranja, movimentou as palhas num semi-arco e molhou o papel de uma forma que o carimbo parecia um grande sorriso significando mais um SIM na votação proposta pela nossa Brux que cada vez mais fazia parte da nossa vida, dos nossos sonhos, como se fosse da família mesmo.

E o Esperanto? Ah! Esperem só para verem o que essa gente, errr... esse grupo vai aprontar.