sábado, 21 de junho de 2014

Código



Eu, ouvido colado ao chão, ouço o tropel desenfreado em minha direção.
Sei quem são.
E me ponho de pé para recebê-las:
As palavras...
Chegam, apeiam e falam ou se calam,
e me derrubam,
e me levam ao pranto ou ao riso.
Umas são teatrais, outras, calmas.
Umas se vão e levam consigo pedacinhos de mim num processo de polinização da vida que me permite o renascer em outros corações.
E se umas me fazem dormir, outras me convidam a sonhar.
Palavras...
E penso naqueles que não as conhecem
ou que conhecem apenas
as que ferem,
                  sangram
                             e matam.
Eu tenho penas deles.
                          Eu tenho pena delas.
Palavras...

...como viver sem elas?

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Madrinha Flora


 
Madrinha Flora adorava plantas! E sempre acreditou que esses seres da natureza guardavam sentimentos e, se aguçássemos o ouvido e apurássemos a visão, poderíamos ouvi-los e vê-los de outra maneira.

Como morava sozinha num bosque muito aprazível, ela costumava tecer longas conversas com a natureza e jurava que ambas se entendiam muito bem! Trocavam até receitas...

Um dia percebeu que em meio a sua plantação erguia-se um girassol! E foi logo puxando conversa, mas, para surpresa sua, descobriu que aquela flor mantinha-se muito triste, muito calada...

Acho que é porque está sozinha, pensou madrinha. Os girassóis vivem em grupo, estão sempre juntinhos no seu ofício de observadores do sol. Se não me engano devem ser entes do céu, disfarçados de flor...

Ora, Flora, deixe de bobagens e vai tratando logo de descobrir a razão da tristeza do girassol. Tristeza não faz bem, você sabe!

Enquanto pensava pegou um livro e sentou-se do lado de fora para ler para aproveitar melhor a luz natural.

Pois não é que quando se deu conta, o girassol estava ao seu lado?! Ele olhava para o livro com tanto interesse, que Madrinha Flora começou a ler em voz alta e descobriu que a plantinha voltou a ser alegre e divertida.

Ah! Ela gostava de histórias! E de livros! Madrinha Flora então passou a contar histórias das mais diversas todos os dias.

Acho que as plantas e os animais são como nós. Alguns gostam de ouvir histórias e quão poucos sabem contar...

E mais uma surpresa a aguardava: Ao sair para o terreiro cumprindo a sua agradável e amorosa tarefa, não é que se viu cercada por outras flores e folhagens, ganhando uma nova plateia para suas narrativas?

E há quem diga que fadas não existem...