sexta-feira, 26 de junho de 2015

Sua palavra



Pousa em meu pensamento
a Sua palavra, qual abelha na flor.

Fala ao meu sentimento
qual sabiá em trinados de amor.

Suave, chega e vai
Qual brisa leve, raio de luar.

A paz que me traz, eu bem sei,
Em lugar algum poderei achar.


O adeus de Brux


Um tanto distraída, Brux vinha em seu voo de rotina quando... Fiuuuu-í!

Ela, prontamente, deu meia volta na vassourinha e voou célere em direção ao assovio.

Era Lyli, uma estrelinha da Constelação do Esperanto. Verdinha, linda, feliz, com uma carinha boa, muito sorridente foi logo se adiantando:

- Ei, Brux, venha comigo ao Solar Verde. Tem gente querendo conversar contigo.

Bem, claro que essa gente que Lyli se referia eram estrelinhas como ela...
Brux foi recepcionada com música e poesia e pela primeira vez na vida sentiu vontade de chorar, mas não o fez. Pelo contrário, sorriu luarizando o olhar.

- Queremos agradecer a você pelo curso no antigo Casarão, Brux.

- Ora, qualquer um faria o que eu fiz. Não foi nada de mais.

- Ah, mas não é qualquer um que tem o dom de ensinar uma língua a determinados entes, animaizinhos, flores e personagens. Por isso nós chamamos você aqui para lhe oferecer uma lembrancinha de agradecimento.

Brux estava admirada! Na sua memória milenar não havia registro de ter recebido homenagem alguma! Ela sempre fora afeita a grandes períodos de retiro, tinha uma certa dificuldade com as regras sociais, embora tivesse alguns amigos valorosos, embora gostasse de presentear os amigos...

- Brux!

A feiticeira estremeceu levemente. Estava tão ausente que esquecera-se de onde estava e a que viera.

- Venha, Brux. Insistiu Lyli.

A porta do Solar foi aberta mostrando um salão imenso, muito iluminado, com um perfume suave a tomar conta do ambiente.
Ali, a estrela-mãe, com seu brilho especial, recebeu a bruxinha com um carinhoso abraço e ofereceu a ela uma caixinha delicada de onde retirou um pequeno broche, uma estrelinha verde em meio a um círculo com a seguinte inscrição: Lingvo Internacia Esperanto (Língua Internacional Esperanto). A um gesto seu, Brux se aproximou para que que ela mesma prendesse a pequena joia em seu peito.

Esse é o distintivo usado pela maioria dos esperantistas no mundo inteiro como um signo de identificação entre os seguidores do ideal de Zamenhof, do qual Brux agora, efetivamente, fazia parte.

Brux, a bruxinha esperantista!

- Será que não vou decepcionar vocês? Tenho um temperamento difícil, confesso, e...

- ... e não estamos procurando seres perfeitos, Brux. Procuramos apenas pessoas que gostem de ajudar os outros.

Pessoa... então... ela era uma pessoa?! Bom, se não era uma pessoa normal como a maioria, era uma personagem forte, com alguns dons especiais que lhe emprestavam um quê de mistério, um ouvido apurado, uma visão diferenciada, um coração que indignava-se com injustiças, uma impaciência impertinente com o óbvio, mas no mais era igualzinho aos outros.
Que outros, Brux? Ah, aqueles outros que sofriam dos mesmos problemas que ela, claro!

Brux não gostava de falar sobre seus sentimentos, mas eram esses mesmos sentimentos que lhe possibilitaram desenvolver uma percepção intensa sobre a complexidade da alma humana e a partir daí, ler com facilidade o que se passava no íntimo daqueles que entravam em sintonia com ela.

Espera! Por falar em sintonia, seu radar interno sinalizou um pedido de ajuda e ela, sem pestanejar, partiu diretamente na direção daqueles sítios que conhecia como ninguém.
A noite fechada, cúmplice perfeita para aquele encontro, trouxe o velho amigo para a varanda.

Brux esperou.

Ele recostou-se na rede e cerrou os olhos.  Fazendo-se visível, ela o convidou a um passeio.

- Voamos?

- Não, disse ela. Preciso do elemento terra para ajuda-lo.

- Aonde vamos?

- Sem destino.

- Gosto de saber aonde vou.

- Retire a armadura, Arthur.

- Arthur?!

- Sim. Venha.

O contato com a terra, o ar da noite, o silêncio e a cumplicidade misteriosa que reinava entre os dois serenava pouco a pouco o coração de Arthur, dando-lhe uma leveza que ele sempre desejara, mas poucas vezes conseguira sentir.

- Faça um desejo.

- Uma praia.

E num piscar de olhos, a areia, pista inicial para uma agradável corrida, fez-se leito para os corpos excitados pelo exercício e pela proximidade.
Como explicar aquela magia entre os dois? Mesmo em silêncio havia um dialogar secreto, vivo, tão intenso e natural que respondia as perguntas mais íntimas, as dúvidas jamais repartidas até mesmo com o amigo mais próximo!
Esse era o clima entre Arthur e Brux.

Era assim que ela o ajudava a vencer as dificuldades: com silêncios eloquentes, sem questionamentos, sem exigências e sem explicações. Num ambiente mágico onde a individualidade é absolutamente respeitada e quando se fala, a voz é uma melodia e o assunto jamais se repete...

Há histórias, e músicas, e Arte e livros, num ambiente absolutamente mágico, onde pessoas e personagens convivem harmoniosamente e da mesma forma que pessoas são convidadas ao universo literário, personagens passeiam livremente no universo real e colhem maçãs, tomam vinho, banho, dormem e sonham...

A manhã surpreendeu Arthur na varanda ainda.
Espreguiçou-se demoradamente e ao levantar-se algo rolou pela rede chamando-lhe a atenção: um pequeno vidro com areia da praia e uma mensagem: Até sempre.

E ela se foi...

Talvez esteja certa. Talvez seja melhor deixar um pouco de saudade nos corações daqueles a quem amamos.



segunda-feira, 15 de junho de 2015

(In) confidências


Quando, após alguns anos, reencontrei Liana, observei que, além de alguns quilos a mais, ela adquirira uma alegria que não lhe era muito habitual.
Findas as perguntas de praxe, observei:
- Você está bem mais bonita, Lia! Qual é o segredo? Pode-se saber?
Num gesto espontâneo, sacudindo os longos cabelos vermelhos e liberando um sorriso malicioso, baixou o tom de voz e relatou sem pressa.
- Vou resumir pra você, amiga, o que rolou na minha vida. Eu me mudei da casa dos meus pais para um local bem mais perto do meu serviço, por economia de tempo e grana, claro! Por uma dessas manobras do acaso, fui morar na Rua das Acácias, lembra?
- Claro! A rua da Pizzaria do Manolo, onde a gente ia de vez em quando pra conversar e ouvir as histórias que ele adorava contar e saborear aquela iguaria dos deuses...
- Pois é. Na outra quadra, depois da pizzaria, tinha uma casa pra alugar numa vila muito graciosa, para onde me mudei e fiz amizade com quase todo mundo.
Acontece que a vizinha da casa 8, bem em frente à minha, não podia me ver chegar do trabalho, que logo inventava um motivo qualquer para ir até mim. Ou era para pedir algo, ou oferecer um artesanato para eu comprar, mas o objeto de sua visita era para me confidenciar sobre o lado sempre ruim do marido, que era isso, era aquilo, não prestava, e outras coisa mais, você sabe...
- Mas por que você não se separa dele, criatura? Perguntei certa vez, já meio agastada com aquela situação incômoda.
- Ah, minha querida, ruim com ele, pior sem ele... mulher sozinha é prato pra difamadores... e ia repetindo aqueles chavões, cada qual mais chato que o outro.
Um dia, um temporal inesperado me obrigou a tentar um táxi para retornar a casa e dividida entre a atenção da condução e a marquise apertada, vi aproximar-se um carro devagar, mas não dei muita importância ao fato.
O motorista parou, desceu o vidro, e num sorriso cativante, fez o convite:
- Ô, minha vizinha! Aceita uma carona?
Eu nem pensei duas vezes! Entrei no carro e, pela primeira vez, olhei com atenção para aquele homem que eu conhecia apenas pela negra radiografia da mulher.
Mas ele era um belo espécime!
Olhos e cabelos negros com uma mecha rebelde caindo sobre a testa, o que lhe acentuava mais o charme, a pele tostada de sol, as mãos fortes, um sorriso lindo e um humor de-li-ci-o-so!
Bom, minha amiga, para encurtar a história, eu fugi com ele e nossa vida tem sido tão boa, que eu nem sei se mereço tanto!
Sou feliz, graças às confidências da ex, que hoje, ocupa-se em fazer a minha caveira pra todo mundo.
Mas, falando sério, eu não encontro tempo pra coisas ruins...
Nos despedimos e, de volta a casa, eu fiquei pensando na grande ironia do destino...
Embora goste de escrever e criar contos, esse é um caso real.
Outro dia encontrei o casal num shopping comprando ingressos para uma peça infantil e vi a mistura dos dois, nos traços de um belo menino, fruto daquele inusitado amor.
Confidências podem tornar-se armas que se voltam contra aqueles que sentem prazer em manuseá-las.


sexta-feira, 5 de junho de 2015

Onde estás?




Onde estás? É noite alta
e eu olho o céu a te buscar...

Hoje vives entre as estrelas
só não sei em qual te encontrar.

E assim, perdido em meio às lembranças,
de saudade vou chorar.

Mas Deus piedoso me permite
em sonho te encontrar, meu amor!

E minh’ alma agradece
A dor que insiste em machucar.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Quando Jesus vier


Quando Jesus bater à vossa porta,
deixai-O logo entrar.
Convidai-O à mesa,
bebei da água  que só Ele tem pra dar.
Ouví a Sua voz, tão bela e grave,
no mundo sem igual!
Quando Jesus vier, deixai-O entrar, afinal,
para escrever em vossos corações
os milenares ensinamentos Seus,
nas páginas vivas do Evangelho,
em nome do amor de Deus.
Quando Jesus vier...