sexta-feira, 31 de julho de 2015

O mapa do tesouro


O menino seguia pé ante-pé, escondendo algo atrás do corpo quando foi surpreendido por sua irmã.
- O que você está escondendo aí, Leo?
- Nada, Jú!
- Então mostre a mão.
- Qual?
- Primeiro, a esquerda.
- Tá aqui. E exibe a mão vazia.
- Agora, a direita.
- Aqui. E repete o gesto.
- Agora mostre as duas.
- Só se você adivinhar o que eu achei.
- Hmmm... chocolate!
- Você só pensa em comer... Não!
- Figurinhas.
- Não.
- Insetos.
- Não
- Moedas.
- Não.
- Então fala logo! Não sou boa em adivinhações.
- É um mapa. Diz ele abaixando o tom de voz.
- Um mapa geográfico?
- Não.
- Um mapa das ruas da cidade?
- Não.
- Que mapa é esse, garoto?
- Um mapa do tesouro!
- Mapa do tesouro? Ah, não acredito!
- Pois então veja!
E ele mostra um papel envelhecido com marcas, setas quantidade de passos, caveiras, tudo aquilo que contém um mapa do tesouro, é claro!                              
E eles constatam que estão no local apontado pelo mapa e avistam uma grande caixa coberta por um belo xale colorido.
- Olha! Achei o tesouro! Tô rico! Rico! E assim dizendo, ele puxa o xale rapidamente deixando a grande caixa a mostra.
- Cuidado, Leo!
- Cuidado com o quê? Se você está com medo, pode ir. Eu fico sozinho.
- Não. Vou ficar com você.
Ele aproxima-se da caixa e abre a tampa decido. Mas... encontrou outra caixa! E outra, mais outra, e aquilo o deixou muito irritado!
- Ei! Que brincadeira é essa?! Fala olhando em todas as direções.
- Vamos voltar.
- Não! Vou até o fim. Não pedi nada! Achei o mapa, e agora ele é meu! e o tesouro também!
E vai abrindo todas as caixas até atingir a menor delas que está fechada bem fechadinha.  Ele pega a caixinha com as duas mãos e a sacode com força. Há alguma dentro! Faz um barulho considerável.
- Deixa eu abrir pra você, Leo.
- Toma.
E Júlia abre a caixa, um tanto temerosa.
- Um pacote dourado! O que será que tem aí dentro?
- Abre logo isso, Jú. To curioso...
- Um livro?!
- Acho que é um caderno.

Eles abrem o caderno ao mesmo tempo, tamanha a ansiedade.
Na primeira página, em negrito, a seguinte mensagem:

“Parabéns! Você acaba de encontrar um grande tesouro! Se quiser saber mais sobre ele, vai até a página 5.”        

Os irmãos, ansiosos, e com a curiosidade natural da juventude, correm os dedos até atingirem a página indicada.

“Esse tesouro vale mais que toda a prata, todo ouro e todo o dinheiro desse mundo! Mas para que você o receba, há uma condição. Mais informações na página 10.”

- Já estou ficando irritado.
- Vamos esquecer isso, Leonardo.
- Não. Vou continuar.

 “Para receber esse tesouro, você deverá dividi-lo com todas as pessoas que se interessarem por ele. Saiba como na página 15.”

- Ah, não! Se eu achei o tesouro sozinho, ele é só meu! Não vou dividir nada!
- Então vamos embora, mano.
- Já disse que não! Se viemos até aqui, vamos até o fim. E abrem a tal página reveladora...

“Legal! Você chegou até aqui e breve vai tornar-se muito, muito rico. Na última página há um envelope e dentro dele encontra-se um pequeno pacote, dobrado como um leque. Você deve abri-lo com todo cuidado!”

Os irmãos vão até a última página e ali encontram o envelope e ao abrirem o pacotinho surpreendem-se com o que encontram:


E


S

P

E

R

A

N

T

O

- Esperanto?! O que é isso, Jú?
- É um idioma, Leo. Vovô fala essa língua e sempre quis me ensinar, mas eu nunca me interessei.
- Vamos mostrar isso pra ele então?
- Tenho certeza que ele vai ficar muito feliz. Vamos.

E saem os dois irmãos com o caderno encantado, envolvido no papel e dentro da caixinha, para surpreenderem o avô.

Quem será que desenhou aquele mapa?


domingo, 19 de julho de 2015

Eu e as latinhas


Há alguns anos eu participava de um projeto que levava alimentos para a população de rua.

Durante o inverno, prevalecia uma sopa suculenta e tão cheirosa, feita com tanto carinho pelas tias da cozinha, que até a gente sentia vontade de tomar também.

Por questões de segurança no transporte e igualdade na divisão, o alimento era armazenado em latas de leite em pó vazias e devidamente higienizadas. Por isso era comum e permanente a campanha de doações do precioso vasilhame.

Como eu trabalhava numa escola de primeiro segmento onde o uso do leite em pó era diário para as crianças, informei à direção sobre o projeto e obtive a permissão para retirar as latas vazias.

Naquela tarde consegui algo em torno de trinta unidades, que acomodei em duas sacolas plásticas.

Aí o lado cômico da situação:

Ao entrar no ônibus, uma das sacolas se rompeu e foi uma barulhada daquelas!

A reação dos passageiros foi imediata:

- Ai, meu Deus!

- Que isso, gente?!

- O mundo tá acabando?

E eu, apesar do constrangimento, expliquei:

- Calma gente, são apenas latinhas vazias.

- Aí, galera, vamos ajudar a professora!

E foi um corre-corre danado, porque o ônibus em movimento fazia com que as benditas latas rolassem mais rapidamente e as pessoas não conseguissem retê-las, nem o riso e a pilhéria tão comum ao carioca que guarda também, um grande espírito de solidariedade.