Jamais me ocorrera falar sobre um tema tão profundo
como esse.
Trabalhei alguns anos com uma Classe Especial de
Deficientes Auditivos, CE DA, como é comum nas Escolas Municipais, o uso de
si
glas.
Ali conheci vários tipos de silêncio...
Tinha o silêncio de raiva, de busca, de tristeza, de
angústia, de medo, de ausência...
O surdo, ao contrário do que se pensa, é extremamente
ruidoso.
Seus ruídos caracterizam o seu estar no mundo, quais o
arrastar dos pés, como a busca do equilíbrio corporal; o arrastar de mesas e
cadeiras, os gritinhos constantes, monossílabos que significam frases
completas; os palavrões muito bem articulados e pronunciados com raiva; ah, tem
também a expressão burro! reproduzindo o tratamento recebido pelas pessoas bem
próximas a eles.
Mas o fato gritante no dia a dia como parte dessa
comunidade, são os múltiplos silêncios que eles são capazes de fazer.
Curioso é a capacidade que o professor comprometido com
esse trabalho, com essa troca, tem, de entender, decifrar o significado dessas
mensagens ali contidas, encerradas.
Muitas vezes, chega-se em casa com a mente em quase
total exaustão, pela energia liberada nessa troca.
Sempre aprendi a respeitar a eloquência desses
silêncios e ao final de algum tempo eu sabia exatamente o significado de cada
um, de cada expressão, de cada olhar ou a ausência dele, a lágrima que teimava
em não rolar.
Períodos difíceis, mas de grande aprendizado para mim.
Pedras brutas que aprendi a lapidar transformando-as em
pedras preciosas ao meu coração.
Lembro-me que gostaria de aprender a ler em Braille,
mas acabei aprendendo a ler trechos de uma linguagem especial, feita de
silêncios, gritinhos, explosões de raiva ou de ternura, que ficaria impressa
para sempre na minha memória afetiva.
CE DA
EM Professor Castro Rebello
Professora Dirce Sales