- Vai falar com Madre Sofia, minha filha, ela certamente
terá a palavra justa para os seus tormentos.
Entrei na capela e ali encontrei a Madre, imersa em
profunda meditação.
Esperei em silêncio.
Sentindo a minha presença, ela virou-se para trás,
levantou-se e veio até mim.
Estendeu-me as mãos, manteve as minhas entre as dela por
alguns segundos e completou o gesto num
largo sorriso:
- Veja só como o Serviço Celeste é imediato! Eu nem acabei de mandar um pedido urgente a
Nosso Senhor e Ele já me enviou a resposta
e em forma de uma moça linda e no vigor
da juventude! Como Ele é generoso!
Considere-se uma ajudante de Jesus, minha filha! Há muito trabalho para ser feito, mas os
trabalhadores são tão poucos...
Meu Deus! Como eu teria coragem de falar dos meus
tormentos, da minha angústia com uma criatura tão espiritualizada, e que
depositava tanta esperança em mim?
Ela ofereceu-me o braço e saímos pelo longo corredor
daquela antiga e conhecida Instituição Benemérita.
Adentramos o pavilhão infantil e ela, com a doçura dos
corações devotados ao bem, continuou sua conversa, como se fôssemos conhecidas de muitos anos...
Aprenderia depois, com o passar dos anos, que os corações
se reconhecem...
- Veja, minha criança, como esses nossos bebês estão
precisando de uma mãezinha para dar a eles todo cuidado e carinho que precisam
e merecem, já que suas mães não aceitaram essa tarefa tão sublime que Nosso
Senhor em Sua bondade, enviou para nós: a maternidade.
Às vezes temos algumas baixas, sabe? É que Deus precisa
de mães emprestadas lá no céu também.
E então? Aceita
esses corações reunidos aqui nesta casa pelas bênçãos do céu?
Ajoelhei-me diante de Madre Sofia e chorei todo o pranto
represado no peito até aquele momento.
- Oh, Irmã, não sou digna dessa confiança que a senhora
deposita em mim. Como pode uma pecadora como eu, pensar em ser aceita por
Jesus, Irmã?
- Mas Jesus veio para os pecadores, minha filha! Ele veio para todos nós, iludidos que somos
por nossas fraquezas.
- Madre, lá fora numa cesta, está uma criança que eu
pretendia entregar a vocês e sumir desse mundo! Mas, não sei por que, presa de intensa emoção,
fiquei ali na saleta de espera, com minha filha nos braços e a alma tão confusa
que a freira da recepção pegou no colo a pequena Clara e aconselhou-me procurar
pela senhora.
- Ah, você falou com a Irmã Bernadete! Ela sempre sabe
encaminhar para mim as pessoas certas. Bom, mas enquanto você decide o seu
destino, vamos até a recepção para eu conhecer a pequena Clara.
E eu, que ali fora para doar minha única filha àquela
Instituição Cristã, acabei me tornando a mais jovem mãe da Ala 9 do Pavilhão
Azul,
graças
a bondade de Madre Sofia e a misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo.