Bolinhos de chuva: uma iguaria muito apreciada no Brasil,
principalmente no interior, com o café fresquinho, compõe grande
parte da minha história.
Porções de trigo, açúcar, ovos, uma pitada de sal, água
e vinagre, produzem a massa, que frita em pequenas colheradas, vai formando as gotas
douradas e apetitosas, que passadas numa mistura de açúcar com canela em pó, é
uma delícia ao paladar.
Ao paladar ou ao coração?
E vejo tia Hilda, uma das irmãs de papai, com seu
sorriso generoso e sua voz macia, preparando a receita simples - foi assim que aprendi - no fogão de lenha,
na espaçosa casa rural, com árvores debruçadas na beiradinha da janela, como se fossem membros
da família.
Depois, todos nós ao redor da mesa, saboreávamos a
iguaria, ouvindo as histórias, reais ou fictícias contadas, sem pressa alguma
por nossa tia, uma espécie de fada do lar, com seus dotes e dons naturais ou
adquiridos, que iam da culinária ao bordado, da costura às rezas e benzeduras,
dos chás aos licores. Isso sem falar nas lições de amor e dedicação que passava
a todos nós, e, sem sermões, o que é mais importante.
E então chegou a minha vez de ir preparando as colheradas
dos famosos bolinhos, que eu fazia com muito gosto para as filhas que Deus me
confiou aos cuidados.
E era para mim uma alegria só.
Hoje, tentando driblar o tédio, eu preparo os bolinhos
de chuva, mas vejo tristemente que seu verdadeiro sabor estava contido na
presença das pessoas e do cenário que eu vivia.
Proust estava certo...