Desde muito jovem fora fascinado pela chamada Sétima Arte. Tão logo tivesse uma chance, ei-lo em meio à sala de exibição dos grandes ou médios cinemas da cidade.
E o desvelo e seriedade
com que acompanhava o desenrolar das histórias, que ganhavam aos poucos o
movimento encantado dos rolos enormes a projetarem no telão os dramas,
comédias, lendas, ficções ou quaisquer outros gêneros era tal, que chegava
mesmo a intrigar, surpreender a quem o ouvisse em seu entusiasmo narrativo.
Era como se aquele
universo fizesse parte de sua vida.
Uma tarde...
“Luzes! Câmera! Ação!”
“Aconchegue mais a moça ao
seu corpo! Assim! Quero bastante realismo na próxima tomada!” Era a voz seca de
um diretor, que atuava num humor daqueles...
Alguns segundos, e o nosso
personagem não sabia sequer onde colocar as mãos, o raciocínio, a vergonha de
sentir-se assim, totalmente exposto.
“Corta!”
“Isso tem que parecer o
mais natural possível! Fui claro?!”
“Mas...”
“Não tenho tempo para
argumentações.”
“Luzes! Câmera! Ação!”
“Beije a moça!”
”Mas como eu posso beijar
uma desconhecida?!”
“Desconhecida? Eu?! Como
ousa falar comigo assim? Uma atriz de fama internacional!”
“Perdoe-me, senhorita! Não
quis ofendê-la! Aprecio demais a sua atuação e não perco um filme seu!”
“Falando assim eu posso
até me apaixonar... Você é tão atraente...”
“Corta! Isso não está no
script!”
“Silêncio!”
“Luzes! Câmera! Ação!”
“Beije a moça, já disse!
Agora!”
“Mas eu não sou ator!”
“Corta! Cooorta!”
Inesperadamente ele
volta-se para a tela e suplica a plenos pulmões:
“Socorro! Alguém me tire
daqui, por favor!”
- E aí, amigo, posso
ajudar em alguma coisa?
Era o lanterninha, que
tocando de leve em seu ombro, num sorriso disfarçado, resmunga:
- Mas é cada uma que me
aparece... além de dormir ainda sonha!”