sexta-feira, 1 de junho de 2018

A surpresa


Quando eu cheguei ali no salão grande, bem cedinho, acreditando ser a primeira, ele já estava lá.

Sentadinho, discreto como sempre, quieto, a mão sobre a testa, os olhos fechados, igualzinho ele fazia quando morava ainda aqui, bem juntinho de nós.

Eu fiquei mudinha, com a respiração presa, pra não “atrapaiá” o estado de prece daquele homem tão amado por todos, principalmente os mais fracos, os mais necessitados nesta vida!

Mas será que era ele “memo”, meu Deus?

- Uai, e por que não, Maria? Perguntou ele com aquela mineirice de sempre.   
- Chico, meu fio! É “ocê memo”, criatura?
- E tem outro?
- Ter, num tem não. Mas eu garro matutar aqui com as minhas rezas e bentinhos: será que num tô caducando?
- Não tá não, Maria! Sou eu mesmo como diz o povo, em carne e osso, mas agora em espírito. Mas veja, minha irmã em Deus, vamos rezar juntos? Vamos fazer uma prece na intenção dos que não chegaram ainda, porque nós precisamos muito deles, né memo?
- Ô, Chico, mas eles “veve” dizendo que eles que precisam de nós, meu fio! Como é isso?
- Essa é uma estrada de duas vias, Maria. É daqui pra lá e de lá pra cá, esqueceu? Agora vamos aquietar o coração e deixar que eles venham na companhia dos bons mentores, dos servidores de Nosso Senhor Jesus Cristo.

 Então o Chico me deu a mão e eu fiquei chorando e vendo todo mundo chegar, se abraçar e sorrir, mas ninguém via nós dois ali, quietinhos, as mãos dadas e o coração cheio de amor e carinho por todos.