quarta-feira, 20 de novembro de 2019

O sacizinho verde



Contrariando totalmente a tradição do folclore brasileiro, aquele Sacizinho nascera verde.
Foi um rebuliço na mata!
Um saci verde?! Como pode ser isso?
E ele ainda surpreenderia muito, porque era questionador, curioso e solidário.

- Quando crescer vou frequentar uma universidade.
- Ora não delire, Sacizinho!  Contrapõe a Mula-sem-cabeça, sem interromper o seu galope.
- Não é delírio, argumentou ele, saltando  para o dorso do animal, acompanhando-lhe a corrida frenética.
- Se todos têm direito à Universidade eu também posso!
- Mas isso é para os humanos. Você é um personagem.
- Que foi criado por quem?
- Difícil dialogar com você. Desce!
- Desço, mas não pense que vou desistir do meu sonho.

E o pequeno ente, determinado e irredutível, salta sobre um tronco e com a mão no queixo e aquele arzinho encantador de gente que apronta, ele confabula...

“Se tudo muda, por que nós também não podemos?
A prova disso sou eu mesmo: Enquanto todos os meus irmãos são negros, eu nasci verde!
E não pretendo ficar imitando o comportamento, a atitude de ninguém!”

- Falando sozinho, meu caro?
- Não, Curupira, estou pensando alto, organizando o pensamento, entendeu?
- Mais ou menos...
- Quero frequentar a Universidade.
- E como seria essa proeza?
- É simples: Vou apresentar o meu Projeto Inovador ao Departamento de Pesquisas e aguardar a aprovação para começar a parte prática, que é o que dá vida a qualquer ideia!
- Você fala como se conhecesse tudo o que lá acontece... Projeto, departamento, pesquisas... Não entendo!
- Há certas coisas na vida que não é preciso entender, Curupira.
- Mas assim tudo fica muito mais confuso.
- Você, por exemplo, nunca sentiu vontade de ter os seus pés para frente, como todo mundo?
- Me acostumei, Sacizinho. Além do mais, é até divertido porque os outros seguem meu rastro e nunca me encontram!
- E só isso basta pra você, meu caro?
- Acho que sim.
- Mas isso é acomodação. O mundo mudou!
- É, mas o Folclore continua igualzinho...
- Se depender de mim, amigo, garanto que vai mudar!

E o Sacizinho Verde, sem dar ouvidos aos contrapontos de Curupira, munido de algumas folhas de bananeira cuidadosamente cortadas em formato de caderno, com a ponta de uma vareta pôs-se a escrever, escrever, escrever até que adormeceu sobre sua obra prima.

Com as folhas organizadas caprichosamente, seguiu para a Universidade e pediu para falar com o Reitor, que o recebeu sem objeções de qualquer natureza.

Estaria sonhando? 
Mas o que haveria de tão interessante proposta, afinal?!                              
Resumindo: mudar a rotina dos personagens.
Como? Simples:

Transformar o Cururupira num guia turístico.
O Boto, num instrutor de dança.
A Iara, numa cantora.
E a Mula-sem-cabeça poderia fazer um show de corridas acrobáticas...

Sem dúvida alguma o Sacizinho Verde era surpreendente!
Mas devido as exigências burocráticas e o tempo previsto para aprovação de projetos, ainda não temos notícias concretas da transformação desse sonho em realidade. 
Vamos aguardar.
Atualmente sabemos que os que são diferentes, ao terem voz e vez,
são capazes de nos surpreenderem com ideias e ações simplesmente inovadoras.






terça-feira, 12 de novembro de 2019

Carona


Sua voz pediu carona ao luar
para entrar 
pela janela do apartamento,
e despertou meu coração, 
adormecido há tanto tempo, 
que nem sei! 
E o que se deu,
só sei dizer que 
ele agora é todo seu!

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Pintura



Oh, Deus! Sois tão bonito!
fazeis desde as ,menores às grandes  obras:

Das vossas mãos,
a luz,
       as cores,
                   o universo,       
                                  as flores.

Como pode  tão alguém tão imenso e poderoso
encarregar-se de seres frágeis e tão delicados,
como por exemplo, as borboletas...

E ainda fizestes o homem,
com toda sua pequenez, toda sua insensatez
diante de tanta força!

Fizestes a pena e a poesia,
para que esta, a seu modo, a seu gosto,
pintasse o vosso rosto...

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Cio poético



E porque te vejo na Arte,
na nuvem ou na flor
que balança suavemente
na brisa outonal;

E porque te ouço no tamborilar
na chuva no telhado,
no ângelus melancólico e doce,
no trinado dos pássaros,
no rumorejar do riacho inquieto;

E porque te sinto na água tépida
que me cobre a pele num arrepio,
é que me derramo em versos,
em canções, num eterno cio...



terça-feira, 21 de maio de 2019

Constatação


Então você tem um amor...

E afinal quem não tem:
um segredo guardado,
um desejo danado
de se ter um bem?

De sair por aí
em noites de lua
pra namorar,
e um gostoso arrepio
sentindo na pele
pela leveza de se entregar
ao olhar amoroso,
ao falar carinhoso
do seu par

sábado, 4 de maio de 2019

Cântico triste


Filhos do coração,
onde ficam? Onde estão?
Vêm e vão das nossas vidas,
em tempos idos ou de agora,
e porque ao coração é dada
a memória dos seus amores,
não importa quando ou onde,
ao visitar-nos a saudade,
a alma sofre e chora.

Com Deus haverão de estar, é certo,

mas, ainda que separados por séculos,
haveremos vez ou outra,
de senti-los por perto e tão juntinhos,
que sem percebermos,
estendemos a mão num carinho...

Oh, Deus, meu Pai! Eu espero, eu creio!


quarta-feira, 1 de maio de 2019

O Eu e o eu




Eu, gêmeo de mim,
carrego no âmago
o princípio das eras,
a essência das quimeras
que me tornam o que sou.

E quando me vejo nele refletido,
ele me faz comovido
porque na sua ação
eu me desdobro
e estou contido.