Contrariando
totalmente a tradição do folclore brasileiro, aquele Sacizinho nascera verde.
Foi
um rebuliço na mata!
Um
saci verde?! Como pode ser isso?
E
ele ainda surpreenderia muito, porque era questionador, curioso e solidário.
-
Quando crescer vou frequentar uma universidade.
-
Ora não delire, Sacizinho! Contrapõe a Mula-sem-cabeça, sem
interromper o seu galope.
-
Não é delírio, argumentou ele, saltando para o dorso do animal,
acompanhando-lhe a corrida frenética.
-
Se todos têm direito à Universidade eu também posso!
-
Mas isso é para os humanos. Você é um personagem.
-
Que foi criado por quem?
-
Difícil dialogar com você. Desce!
-
Desço, mas não pense que vou desistir do meu sonho.
E
o pequeno ente, determinado e irredutível, salta sobre um tronco e com a mão no
queixo e aquele arzinho encantador de gente que apronta, ele confabula...
“Se
tudo muda, por que nós também não podemos?
A
prova disso sou eu mesmo: Enquanto todos os meus irmãos são negros, eu nasci
verde!
E
não pretendo ficar imitando o comportamento, a atitude de ninguém!”
-
Falando sozinho, meu caro?
-
Não, Curupira, estou pensando alto, organizando o pensamento, entendeu?
-
Mais ou menos...
-
Quero frequentar a Universidade.
-
E como seria essa proeza?
-
É simples: Vou apresentar o meu Projeto Inovador ao Departamento de Pesquisas e
aguardar a aprovação para começar a parte prática, que é o que dá vida a
qualquer ideia!
-
Você fala como se conhecesse tudo o que lá acontece... Projeto, departamento,
pesquisas... Não entendo!
-
Há certas coisas na vida que não é preciso entender, Curupira.
-
Mas assim tudo fica muito mais confuso.
-
Você, por exemplo, nunca sentiu vontade de ter os seus pés para frente, como
todo mundo?
-
Me acostumei, Sacizinho. Além do mais, é até divertido porque os outros seguem
meu rastro e nunca me encontram!
-
E só isso basta pra você, meu caro?
-
Acho que sim.
-
Mas isso é acomodação. O mundo mudou!
-
É, mas o Folclore continua igualzinho...
-
Se depender de mim, amigo, garanto que vai mudar!
E
o Sacizinho Verde, sem dar ouvidos aos contrapontos de Curupira, munido de
algumas folhas de bananeira cuidadosamente cortadas em formato de caderno, com
a ponta de uma vareta pôs-se a escrever, escrever, escrever até que adormeceu
sobre sua obra prima.
Com
as folhas organizadas caprichosamente, seguiu para a Universidade e pediu para
falar com o Reitor, que o recebeu sem objeções de qualquer natureza.
Estaria
sonhando?
Mas
o que haveria de tão interessante proposta, afinal?!
Resumindo: mudar
a rotina dos personagens.
Como?
Simples:
Transformar
o Cururupira num guia turístico.
O
Boto, num instrutor de dança.
A
Iara, numa cantora.
E
a Mula-sem-cabeça poderia fazer um show de corridas acrobáticas...
Sem
dúvida alguma o Sacizinho Verde era surpreendente!
Mas
devido as exigências burocráticas e o tempo previsto para aprovação de
projetos, ainda não temos notícias concretas da transformação desse sonho em
realidade.
Vamos
aguardar.
Atualmente
sabemos que os que são diferentes, ao terem voz e vez,
são
capazes de nos surpreenderem com ideias e ações simplesmente inovadoras.