sábado, 24 de dezembro de 2016

Destino


- Vai falar com Madre Sofia, minha filha, ela certamente terá a palavra justa para os seus tormentos.
Entrei na capela e ali encontrei a Madre, imersa em profunda meditação.
Esperei em silêncio.
Sentindo a minha presença, ela virou-se para trás, levantou-se e veio até mim.
Estendeu-me as mãos, manteve as minhas entre as dela por alguns segundos  e completou o gesto num largo sorriso:
- Veja só como o Serviço Celeste é imediato!    Eu nem acabei de mandar um pedido urgente a Nosso Senhor  e Ele já me enviou a resposta e em forma de uma moça  linda e no vigor da juventude! Como Ele é generoso!     
Considere-se uma ajudante de Jesus, minha filha!  Há muito trabalho para ser feito, mas os trabalhadores são tão poucos...
Meu Deus! Como eu teria coragem de falar dos meus tormentos, da minha angústia com uma criatura tão espiritualizada, e que depositava tanta esperança em mim?
Ela ofereceu-me o braço e saímos pelo longo corredor daquela antiga e conhecida Instituição Benemérita.
Adentramos o pavilhão infantil e ela, com a doçura dos corações devotados ao bem, continuou sua conversa, como se  fôssemos conhecidas de muitos anos...
Aprenderia depois, com o passar dos anos, que os corações se reconhecem...
 - Veja, minha criança, como esses nossos bebês estão precisando de uma mãezinha para dar a eles todo cuidado e carinho que precisam e merecem, já que suas mães não aceitaram essa tarefa tão sublime que Nosso Senhor em Sua bondade, enviou para nós: a maternidade.
Às vezes temos algumas baixas, sabe? É que Deus precisa de mães emprestadas lá no céu também.
E então?  Aceita esses corações reunidos aqui nesta casa pelas bênçãos do céu?
Ajoelhei-me diante de Madre Sofia e chorei todo o pranto represado no peito até aquele momento.
- Oh, Irmã, não sou digna dessa confiança que a senhora deposita em mim. Como pode uma pecadora como eu, pensar em ser aceita por Jesus, Irmã?
- Mas Jesus veio para os pecadores, minha filha!  Ele veio para todos nós, iludidos que somos por nossas fraquezas.
- Madre, lá fora numa cesta, está uma criança que eu pretendia entregar a vocês e sumir desse mundo!  Mas, não sei por que, presa de intensa emoção, fiquei ali na saleta de espera, com minha filha nos braços e a alma tão confusa que a freira da recepção pegou no colo a pequena Clara e aconselhou-me procurar pela senhora.
- Ah, você falou com a Irmã Bernadete! Ela sempre sabe encaminhar para mim as pessoas certas. Bom, mas enquanto você decide o seu destino, vamos até a recepção para eu conhecer a pequena Clara.
E eu, que ali fora para doar minha única filha àquela Instituição Cristã, acabei me tornando a mais jovem mãe da Ala 9 do Pavilhão Azul, graças a bondade de Madre Sofia e a misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo.

sábado, 3 de dezembro de 2016

Sem despedidas


Se eu partir sem me despedir,
por favor, não leva a mal!
Despedidas entristecem mais
que a dor de uma separação,
mas as vezes é preciso ouvir
a voz da razão!
E, quando ela fala,
nem mesmo o coração consegue
argumentar que te quero tanto
e cada vez mais!
Agora entretanto,
adeus, meu grande amor...
Tantas razões, deve saber Deus!