quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Despossuído

 

Um dia, eis que me encontro sozinha, despida, 

num copioso pranto, sem qualquer identidade.

com muito medo, diante de um mundo ameaçador.    

Nada, absolutamente nada, eu trouxera comigo.


No entanto, esperavam por mim corações amorosos, 

braços protetores, olhares atentos, mãos hábeis

que logo providenciaram-me: uma casa, um berço, 

alimentos, vestuário, higiene, um nome próprio,  educação; 

carinho, advertências,  amor a Deus e ao próximo, 

respeito à Pátria, conhecimento, saberes, religião.

E eu, que nada possuía, tesouro incalculável herdei!


Tempo, pacientemente, me mostrava a necessidade de doar 

e eu experimentei então a alegria do repartir...

Desta forma, quando aos meus braços vieram outros despossuídos

- os filhos amados -, eu também lhes dei (quase) tudo 

daquilo que houvera recebido um dia.

 

Tempo também me falou de esperanças 

e apresentou-me a um Cavalheiro especial 

que me cobriu de presentes e com muita lisura 

levou-me em viagens onde eu aprenderia a grandeza

das diversidades culturais,  das Artes, das Ciências, da Arquitetura.

Apresentou-me ainda aos grandes Mestres de ontem e hoje

numa simplicidade comovente, num diálogo encantador!

Esperanto! eis o nome do Cavalheiro tão amado por mim,

e que eu, a meu turno, nada  tive a oferecer!

 

De quando em quando Tempo reaparece

e me faz recordar que mais dia, menos dia, 

retornarei ao meu país de origem,

para onde, além da gratidão e de uma grande saudade,

não tenho o direito de levar mais nada!