Da janela do trem que seguia lentamente eu via
as nuvens condensadas pela baixa temperatura
das frias e inesquecíveis manhãs mineiras, pousadas
- como se dormissem – sobre o leito do Rio Verde.
À medida que o sol se abria, elas começavam a se
levantar:
devagar a princípio e
rápidas depois, como se, na verdade,
estivessem mortas de saudade das alturas.
Aí o rio tornava-se claro com todo o seu esplendor!
O trem corria e o rio também, lado a lado,
como uma competição. Entre eles,
os moitões de capim-navalha que balançavam ao vento,
quais verdes e viçosos cabelos da terra-mãe,
terra moça e faceira, com suave fragância de
capim-limão, rosa, jasmim, sândalo, alecrim, alfazema.
De repente, a velha máquina parava e
soltava um longo apito pelo ar...
uma espécie de até logo ao rio, como se dissesse:
- Vou aliiiiiii... Volto já já já já já...
E subia a serra alta e soberana – a Mantiqueira –
que permanecia sempre lá, desafiando
a potência da velha máquina.
Quando lá em cima, qual alpinista em
escalada de suma importância, a máquina parecia
que respirava fundo a refazer-se do esforço,
e começava a descida triunfal...
O desafio fora vencido afinal, e lá embaixo o vale lhe
acenava familiar, a partir do teto das casas,
(que vistas de cima pareciam de brinquedo)
polvilhadas em meio ao verde, ladeando o rio,
que não subia a montanha, mas a contornava sabiamente.
E quando enfim o trem atingia o vale,
as pessoas, as crianças, principalmente,
corriam de vários pontos para acenar aos que passavam.
Suas mãos espalmadas no ar, nun aceno,
era o toque ameno da ternura sempre hospitaleira
daquele povo do Vale da
Mantiqueira.