domingo, 29 de setembro de 2013

Brux e as vírgulas



                                                                         



Brux, de uma hora para outra, cismou em realizar um velho sonho: escrever. Vestiu sua roupa de escritora, muniu-se de lápis e papel, inventou histórias cheias de finais felizes como gostava, com personagens que ensinavam receitas deliciosas, outros que faziam linimentos, panaceias e outras coisas mais, deixou o orgulho de lado e foi levar seus alfarrábios para a Doutora Zan, uma velha amiga que sabia tudo e mais um pouco sobre palavras, textos, análise morfológica, análise sintática, essas chatices da língua, sabe?  Nada escapava aos seus olhos argutos por trás de grossas lentes sobre um narizinho arrebitado, meio atrevido.

Zan vivia munida com uma arma que disparava um líquido vermelho, fatal!  As pessoas comuns juravam que era apenas uma simples caneta, mas Brux teimava em dizer que não, que era uma arma capaz de derrubar qualquer aspirante a escritor,  qualquer pessoa que se atrevesse a frequentar aquelas salas cheias de livros, de gente falando uma língua com termos tão estranhos que nem mesmo o dicionário esclarecia.  E depois dizem que as Bruxas é que são  complicadas... Ora!

Entrou, olhou para a doutora com seu olhar de nuvens e luares e falou rapidamente sobre sua visita. Zan prometeu que revisaria em seguida. Brux esperou, esperou, muito a contragosto, porque não era do seu feitio esperar, e voltou resmungando, com muita bronca daquelas tripinhas atrevidas que os mortais chamavam de vírgulas. Ai! Eram mesmo de amargar...  Como podia ser aquilo? Aquelas minhoquinhas de nada, desafiando a velha Brux? Ah, elas nem desconfiavam do que ela era capaz!

Após uma noite inteira pilotando a vassoura inseparável pela pradaria estelar, regressou ao casarão e abrindo o grande livro, armada com uma terrível pinça de sobrancelhas, retirou todas as vírgulas sem dó, e as aprisionou em uma caixa que ela chamava de Caixa das Decisões Drásticas.

Ao meio-dia, com a caixa bem acomodada numa bolsa espaçosa e grande livro debaixo do braço,  dirigiu-se rapidamente ao Departamento onde Zan trabalhava e, colocando a caixa sobre a mesa, disse sem rodeios:

- Toma. São todas suas.

- O que é isso?

- São suas famigeradas vírgulas. Não tenho a menor paciência com elas.

- Mas você precisa delas, Brux!

- Mas elas não precisam de mim. Então, estamos quites!

- E como as pessoas poderão ler corretamente o que você escreveu?

- Elas não entendem os poetas? Se eles têm esse direito, por que eu também não posso ter?

- E a compreensão?

- Fica a encargo do contexto. Tchau, Zan.

- É a sua última palavra?

- É.

E lá se foi com seu estranho livro totalmente despovoado de vírgulas.
Zan balança a cabeça e suspira: Onde vai parar essa criatura?

sábado, 28 de setembro de 2013

O Aluguel



                                  

O vento forte que soprava na direção contrária fazia com que os passos de Dom Ferdinando ficassem mais lentos. Ele a cada minuto consultava o recorte de jornal já amassado de tanto passar da mão para o bolso do paletó, já bem fora de moda, mas que ele fazia questão de manter e usar como se aquela velha peça lhe garantisse a nobreza que sempre afirmara possuir, mas a tal linhagem era bastante duvidosa.
Dom Ferdinando, como se intitulava, estava à procura de uma casa para alugar.
A rua parecia bem tranquila, mas o diacho do número não chegava nunca!
Quase no final da antiga alameda, bem ali, entre muros descascados, escondia-se o número 1906, numa construção no fundo do terreno.
Na ausência de campainha, bateu palmas. Odiava fazer isso!
Após alguns arrastados minutos surgiu alguém para recepcioná-lo.
O personagem parecia-se com a casa...
Roupas gastas, barba por fazer, uns óculos quebrados que ele tentava equilibrar sobre o nariz, sem grandes resultados. Procurando ajustar o foco de visão, alteou a voz fanhosa:
- Que é?
- É o seu novo inquilino.
- Quem?!
- Seu inquilinooo.
- Ah! Vou chamar o “seu” Lourival.
Virou as costas, deixando D. Ferdinando furioso sob uma garoa fina e aquele maldito vento.
Quando já se decidia a ir embora aparece o “seu” Lourival, o suposto senhorio da casa estranha.
Os cabelos em desalinho, a roupa amarrotada no corpo demonstravam que ele estava dormindo vestido como se fosse sair. Seu aspecto desleixado. Um gato a segui-lo e a tentativa de parecer gentil, deixou-o com uma das mãos estendida para cumprimentar o recém-chegado, enquanto a outra tentava abrir a fechadura emperrada do portão.
Dom Ferdinando estava deveras enojado daquele quadro burlesco, mas o preço do aluguel tentava-o a ficar.
- Boa tarde! Desculpe certa desordem, mas homem solteiro não tem muito tempo, nem jeito, para certas arrumações mais próprias de mulher...
- Posso ver a casa?
- Ah, claro! Muito prazer. Lourival.
- Dom Ferdinando.
- Já ouvi falar do senhor.
- Bem ou mal?
- Vamos entrando... fez-se o outro de desentendido.
D. Ferdinando detestava gatos e como parece que tudo o que não se gosta nos vem de encontro, lá estava o almofadinha tentando esquivar-se do animal, que insistia em roçar-se em suas pernas. Aaarrrg...
Tudo era desagradável e cheirava a poeira e mofo naquele lugar.
- Qual é mesmo o preço do aluguel?
- R$ 600,00
- Está alto.
- Está no preço do mercado.
- R$ 500,00?
- R$ 550,00.
Nisso, estranhos ruídos vieram do interior da casa, interrompendo a negociata dos personagens que pareciam medirem-se, sondarem-se o tempo todo.
- Que é isso? Tem morador na casa? No anúncio diz que ela está vazia!
- Ah, não se incomode com isso. São os fantasmas.
- Fantasmas?!
- É. Os antigos inquilinos gostavam tanto do lugar, que nem depois de mortos quiseram sair. O que é a vida, não?
- Bem, esse preço é com os fantasmas, já entendi. E sem eles?
- Não posso expulsá-los. Aliás, nem saberia como! Mas, afinal, o senhor tem tanto medo de fantasmas assim?
 - Não.
- Então, por que não os quer por perto?
- Ah, eles são muito barulhentos e um escritor precisa de silêncio para trabalhar.
- R$550,00?
- Sem chance.
- R$ 500,00
- Fecho em R$450,00.
- Sem direito a água encanada. Só de poço.
- O quê?! O senhor merece ser denunciado por anúncio falso.
- E o senhor por falsa identidade.
- Até nunca mais!
- Até nunca mais, Fernando Contrabando!
- Lourival Lalau...
E saindo dali o quanto antes e mais rápido que pudesse, já que tinha o vento agora a seu favor, nem percebeu que o velho sovina, sabe-se lá como, roubou-lhe o antigo relógio de algibeira que ele fazia questão de dizer ter herdado do avô, um lorde inglês, que morrera num naufrágio, mas que na verdade conseguira numa carga de contrabando no cais do porto, cujo chefe portuário era seu velho conhecido e devia-lhe alguns favores...
Assim como as almas nobres se atraem as não tão nobres também, corroborando o velho ditado que diz: semelhante atrai semelhante em igualdade de proporções.

                                                                                                          


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A flor, o colibri e a bruxa



                                                                    
Quando Brux Xilda chegou em casa, arregalou os olhos e depois franziu a sobrancelha de um jeito que quase se via um enorme ponto de interrogação em seu semblante.
-  Que é isso?! Não me lembro desse feitiço.
À sua frente, uma Florzinha muito elegante, moderna, chave de carro na mão e sempre olhando tudo e todos, por cima dos óculos e com respostas inteligentes e imediatas, reagiu:
- Que feitiço?
- Ei, coisinha pequena, de onde você saiu?
- Alto lá, senhora dona Brux’ Xilda! Se eu saí de algum lugar, foi da minha casa, ouviu bem?
- Ah, mas eu devo estar tendo um pesadelo! Uma Flor, independente, toda cheia de si e ainda por cima me desafiando! Vou acordar agora mesmo.
- Não senhora! Apenas estou falando do meu ponto de vista de Flor.
- Pode-se saber o que a Dona Flor Espevitada da Silva, quer de mim?
- Ahn, ahn! Eu soube que você é a melhor especialista em poções, certo?
- É. Não cheguei a receber o diploma, mas estudei na Universidade da Magia e era destaque em algumas disciplinas, como Química, por exemplo.
Flor, então, exibindo os seus melhores ares de supervisora, olhando à volta, perguntou:
- Tem algum lugar para eu sentar aqui?
Só então Brux’ XIlda observou que ela transportava um pacote quase do seu tamanho.
- O que é isso?
- Bruxas não adivinham sempre?
- QUASE sempre.
Então Flor colocou o pacote sobre a mesa, abriu-o e, por incrível que pareça, eram inúmeras cartas. Cartas de Flor para muita gente, mas que ela nunca enviara!
- Você é muito complicada. Chega na minha casa antes de mim, me pede uma poção e me mostra um pacote de cartas nunca enviadas! Acho que nem o CEB conseguiria resolver um caso complicado como o seu.
- CEB? O que é isso?
- Comissão Especial das Bruxas, ora.
- É. Meu problema maior é que eu acho que tenho algum botão desregulado, sabe? Às vezes ele dispara, e eu não consigo controlar. É um botão que faz eu me apaixonar perdidamente, “pra sempre”, por um alguém. Aí eu escrevo as cartas mais lindas desse mundo, verdadeiros poemas, mas na ora de enviar eu descubro que o tal botão da paixão foi desativado. Então eu chooooro, chooooro e, aí, eu volto para casa e guardo as cartas que pretendia mandar porque não tenho coragem de jogá-las fora. Dá uma pena, sabe?
- Sei.
- Como você sabe?
- Não vem ao caso. Mas você veio em busca de uma poção.
- É. Quero saber se você teria alguma poção especial para me curar disso. Tem hora que isso incomoda...
Brux,  então, sentou-se diante da pequena Flor e com um sorriso triste revelou:
- Você bateu na porta errada, Florzinha.
-   ...
- Me espera aqui um instante.
Flor ficou ali sentada, olhando para o vazio, enquanto  Brux ia até o sótão trazendo de lá um baú muito pesado e quase todo coberto pela poeira do esquecimento. Abriu o objeto e Florzinha não escondeu seu espanto:
- Cartas nunca enviadas também?!
- É. Sofremos do mesmo mal. Infelizmente essa poção que você tanto busca eu jamais poderei te dar.
- Posso pagar muito bem.
- Não se trata de dinheiro.
- Trata-se do quê, então?
- Foi justamente por não haver tomado nota e preparado a poção da neutralidade que fui reprovada nesse quesito e impaciente, intolerante como sempre fui, abandonei a Universidade da Magia e isolei-me aqui. Nas outras poções que não envolvem as coisas do coração eu consigo o preparo ideal para resolver, mas nessas...
- Amigas?
- Se você for capaz de tolerar meus humores sempre meio em ebulição posso pensar no seu caso.
- Pensava que bruxas não fossem humanas.
- E eu era capaz de jurar que flores eram vegetais! Ah! Ah! Ah!
- Posso voltar aqui amanhã?
- Para quê?
- Ah, para conversarmos, ora.
- Não costumo receber visitas com frequência. Acho que sou meio antissocial. Semana que vem?
- Depois de amanhã? Gostei de você.
- Tá. Também.
- Então até amanhã.
- Até.
Flor sentiu que tinha desarrumado um pouco o interior de Brux’ Xilda. Ao chegar em casa olhou-se no espelho e sorriu para sua imagem.
- Convencida!
- Quem, eu?
- E tem mais alguém aqui?
- Não.
- ...
- Então eu sou convencida, é?
- É.
- Pode-se saber por quê?
- Porque você está crente que mudou algo no coração de Brux.
- Como você sabe?
- Conheço você há muito tempo e sei o significado de todos os seus olhares e gestos. Quando você está triste, preocupada, alegre, apaixonada ou convencida, como agora.
- Ah, mas eu posso, não? Afinal, eu e ela temos tanta coisa em comum!
- É, mas ela é uma Bruxa.
- E eu, uma Flor, ora! Quer saber? Você já falou demais. Tchau!
E Flor abandona a outra Flor que mora no espelho e vai guardar suas relíquias. Antes, pegou uma caixa, acomodou todas as suas cartas, fechou e começou a decorá-la com estrelinhas, luas, sóis, nuvenzinhas, corações e um pequeno Cupido de que ela gostava muito. Lembrou-se também de uma estatueta de Hermes, o mensageiro entre os deuses e os mortais, cuja lenda ela sempre relia, e o colou sobre a tampa do objeto de seus cuidados.
Enquanto organizava seu pequeno grande tesouro, arquitetava um plano que acreditava ser um marco na vida da bruxa da Rua Projetada, nº 3.333, cuja soma aritmética resulta em 3 e cuja soma algébrica resulta em 9. Bom sinal!
Sentou-se, pensou, repensou e anotou tudo o que achava importante. Correu ao espelho e ali encontrou a Flor do espelho com a mão no queixo e um bico que não tinha mais tamanho.
- Que bico é esse? Você me chamou aqui para me mostrar esse bico, é? Desse jeito você vai virar passarinho!
- É? Você está se esquecendo de um detalhe muito importante.
- Qual?
- E se Brux não aceitar?
- Você é sempre do contra.
- Sou lógica. Pense nisso.
- Se eu pensasse nisso não teria conquistado tudo o que tenho até hoje. Tchau!
Saiu às compras, organizou tudo no Possante, era como chamava seu Jeep Estradeiro, lindo, que ela amava de paixão e que não emprestava nem ao seu melhor amigo!
- Ô de casa!
Um miado longo foi a resposta que obteve.
- Pode-se entrar?
- Vai entrando.
-Oi, Brux.
- Oi.
- Podemos conversar?
- Hum... hum!
- Sabe, eu trouxe uma merendinha para a gente se distrair enquanto conversa. Estou cheia de ideias.
- E a poção? Esqueceu?
- É, deixa para lá. Estive pensando o seguinte: sua casa é um charme, Brux. Que tal se a gente transformasse esse espaço num Centro Esotérico, com vários eventos, encontros, cursos, contação de estórias... Já pensou que sucesso?
- Não sei se saberia receber muita gente. Sou meio avessa a esses tumultos.
- Não, Brux. Seria uma coisa regulamentada, com dias certos e um horário fixo ao público. Poderíamos ter o momento do Chá do Encantamento, Magias Infusórias, Gastronomia da Paixão, Leitura com Runas... Fala alguma coisa, Brux!
- Você não deixa!
- Desculpa, amiga! É que quando me empolgo...
- Bom a ideia não é má. Mas isso aqui está caindo aos pedaços e como você acha que vai atrair tanta gente assim? Sejamos realistas, não?
- Ah, mas isso a gente resolve rapidinho. Eu tenho alguns amigos, bons amigos, que são mestres em projetos e eles transformam isso tudo em dois tempos, você vai ver!
- E eu?
- Que é que tem você?
- Eu fico onde durante essa bagunça toda?
- Ah, você pode ficar na minha casa!
- Na sua casa?!
- É. E por que não?
- Porque além de ser muito sistemática eu não moro sozinha, Flor.
- Não?
- Mora com quem, posso saber?
- Com Ariosto, Avínia e Tenor.
- Quem são?
- Um gato, uma coruja e um sapo de jardim, que, de vez em quando, vem para a cozinha e a gente leva um tempão conversando. Em noites de lua cheia, ele costuma cantar umas modas de viola bonitas, só vendo. É um companheiro e tanto!
- E você tem alguma música favorita?
- Tenho, afirma a feiticeira encompridando o olhar.
- Qual?
   “Felicidade foi-se embora e a saudade no meu peito
    inda mora  e é por isso que eu gosto lá de fora,
     porque sei que a falsidade não vigora!”
  - Como você pode ver, é impossível sair daqui para qualquer canto e deixar meus companheirinhos.
 - Que charme, Brux! Nunca pensei que uma Bruxa pudesse ser tão afetiva com animais tão “sui generis” assim!
- Você não sabe um terço sobre a realidade que cerca as Bruxas, Florzinha.
Nesse momento, Ariosto, um gato de pelo negro como a noite, salta graciosamente de uma estante para o chão e encosta-se todo na perna de Flor, que se encolhe.
- Tenha medo não. Os cães farejam as pessoas, mas os gatos costumam encostar-se nelas para senti-las.  Seria o abraço dos humanos.
Ariosto mia e pula para o colo de Brux que o afaga mansamente.
É uma mulher misteriosa, demonstrando, na expressão facial, quase ao mesmo tempo, alegria e tristeza de um jeito muito especial, praticamente indescritível.
Flor pensa rápido e resolve o assunto pendente:
- Você poderia então ficar aqui mesmo, em um dos quartos do casarão, enquanto a equipe trabalha no restante da casa. Seu quarto ficaria por último. Pode ser?
- Vou consultar o Oráculo e te respondo depois.
- Posso ver o Oráculo?
- Não.
-Puxa, Brux!
- Até amanhã, senhorita Flor Espevitada da Silva Júnior!
- Júnior?! Ah! Ah! Ah! Flor morria de rir com as tiradas de Brux. Não sabia se ela não sabia ou se sabia e brincava com o não saber. Credo! Que complicação!
- É, Júnior, sim, por enquanto, até eu arrumar um codinome definitivo para você.
Flor saiu no Possante e começou a fazer seus contatos, dando asas ao seu mirabolante projeto. Se Brux concordasse já estaria com tudo no esquema para dar início o quanto antes ao audacioso projeto.
Quando chegou em  casa uma surpresa a aguardava: sobre a mesa da sala, um envelope lacrado por um selo em forma de patinha de gato.
Abriu o envelope rapidamente e dentro dele apenas uma palavra em tinta semelhante a nanquim:
ACEITO!
                                                                              
Como aquele envelope chegara até ali? Correu para o espelho.
- Você acredita que ela vai te revelar toda a magia que traz em sua bagagem?
- Não. Mas também nem eu quero!
- Por que não?
- Porque senão perde a graça, não é? Mas vim te dizer que ela aceitou, viu?
- Eu já sabia.
- Como já sabia?
- Estava aqui o tempo todo!
- Tchau! Não falo mais com você hoje!
- Problema! Diz a Flor do Espelho, dando de ombros.
- Mentira, Florzinha! Eu te amo! Vou telefonar.
Buscou em sua agenda o velho amigo Castor, mestre de obras excelente, e pediu seus préstimos.
- Ah, Flor, sinto muito! Estou de viagem para o Canadá, num projeto com diques durante dois meses. Mas vou te indicar um amigo, muito competente, recém-chegado da França. É muito rápido, exigente em tudo o que faz e sua empresa tem referência internacional: A COL Arquitetura. Anota aí.
Feito o contato, entrevista marcada, e parte Flor rápida como um corisco até a tal empresa indicada por Castor.
Anunciou-se e subiu até a panorâmica sala do chefe daquela belíssima e agradável construção. Tudo muito organizado, tudo no lugar, móveis modernos e antigos numa harmonia perfeita. Era tudo o que Flor esperava.
Mas o melhor ainda estava por vir...
- Bom dia!
- Bom dia, diz Flor, virando-se rapidamente em direção à voz e quase cai da cadeira diante daquela visão bem ali na sua frente.
Monsieur Colibri em pessoa! Lindo, perfumado, muito bem vestido e tão gentil, que Flor quase se esqueceu até do que fora fazer ali!  Ai, meu Deus, tudo de novo!
- Muito bem-vinda, mademoiselle...
- F-flor! Gaguejou ela diante daquele ser tão encantador.
- Prazerr. Monsieur Colibrri, ao seu inteirr disporr. Parrdon, minha má prronúncia em seu belo idioma. Os frranceses podem sair de Frrance, mas ela  não sai de nós facilmente.
- Não por isso, meu querido! Oh, desculpe, quero dizer, Monsieur.
- Sem prrobleme! Sente-se mademoiselle. Em que posso serrvirr?
Flor então expõe todo seu projeto e ele, atencioso, vai anotando, desenhando numa velocidade espantosa tudo o que ela relatava minuciosamente.
Ah, se o jovem Colibri pudesse adivinhar o que se passava na cabecinha sonhadora de Flor...
Então ele a convida para irem até o local da construção para uma avaliação da real concretização daquele arrojado projeto. Mas Flor que já estava passeando em outra galáxia, nem ouviu o convite.
- Se mademoiselle não puderr irr, não tem imporrtância eu comprreende.
- Ahn? Desculpe novamente, monsieur. Eu me distraio às vezes. Você dizia...
- Se podemos irr até o local do prrojeto agorra parra eu avaliarr  algumas coisas.
- Sim, claro!
- Vamos no meu carr. Me acompanhe, porr favorr.
Desceram pelo elevador particular dele e Flor ficou admirada com o modelo arrojado do seu carro semelhante a uma nave com a cúpula toda transparente, um painel de controle igualzinho ao de uma aeronave moderníssima e que desenvolvia uma velocidade incrível, quase levitando.
E Flor que se achava hipermoderna, sentiu-se jurássica diante daquele transporte totalmente futurista! Em segundos chegaram à casa de Brux, que os recebeu com a tranquilidade de sempre.
- Brux?! Meu amigo Monsieur...
- Colibri. Antecipou Brux.
- Como adivinhou?
- Anda um pouco esquecida, não Dona Flor da Silva?
Flor estremeceu e baixou o olhar. Que feiticeira!
- Encantado, madame! Seu sobrrado é encantadorr e seu gato também.
- Não tenha medo dele.
- Não tenho, pode sossegarr. Podemos verr todo o prrédio?
- Sim.  E Brux exibe seu exótico casarão ao famoso arquiteto que com velocidade espantosa o esboçou em sua inseparável prancheta.
- Quando começamos?
- No inicio da Lua Nova.
- É amanhã.
- Ótimo! Amanhã minha equipe chega parra começarr o trrabalho. A que horras, madame?
- Às nove. Gosto de números cabalísticos.
Avínia dá o ar de sua graça, com seus sons guturais, estranhos e que preenchem todo o ambiente do amplo casarão.
Flor, até então calada, resolve arriscar:
- Posso vir também?
- Prefirro a surrprresa, se mademoiselle não se imporrta.
No olhar enigmático de Brux, um sorriso malicioso que Flor não conseguiu traduzir.
Regressaram à COL Arquitetura e monsieur Colibri gentilmente a acompanha ao seu Possante.
- Belo modelo! E muito bem conserrvado! Mademoiselle serr caprrichose.
- Obrigada! Quando nos vemos?
- Eu faço contato, pode sossegarr.
Flor volta para casa amuada Sentiu-se meio que posta de lado. Ninguém precisava dela para nada! Droga! Subiu resmungando e, ao abrir a porta, seu coração acelerou: outro envelope de Brux.
                               PREPARA OS CONVITES
Convites? Que convites? Que raiva! Se ao menos Brux tivesse um telefone, mas cadê? Ela parecia transcender aquilo tudo. Procurou a Flor do espelho.
- Já viu o tamanho do seu bico? Agora é a minha vez.
- Não perturba!
- Eu te avisei que ela não ia te falar tudo.
- Agora me manda preparar os convites. Que convites?
- Não é para a inauguração do C.E?
- Que C.E é esse, criatura?
- O Centro Esotérico, ora.
- Ih! Tinha até esquecido! É isso mesmo! Mas como preparar convites sem data? Taí, já sei. Vou ligar para Colibri e perguntar.
- Acha mesmo que você deve fazer isso? Sei não. Se eu fosse você esperava um pouco.
- E desde quando você acha o que eu devo fazer?
- Desculpa.
Mas Flor nem ouviu o pedido de desculpas da Flor-espelho. Já estava discando nervosamente para o charmoso arquiteto. Mas o que estava acontecendo com ela? As mãos trêmulas ao discar... eu hein! Caiu na caixa postal:
Porr favorr deixe seu recado. Ligo quando voltarr. Obrrigado.
- Droga! Então ela decidiu que a melhor coisa a fazer seria chorar. É. Chorar, chorar, chorar até não poder mais! Mas ao mesmo tempo lembrou que sua esteticista tinha dito que chorar muito provocava aqueles sulcos profundos na pele, as rugas.
- Ah, danem-se as rugas! Vou chorar. Ninguém tem nada com isso...
Nesse instante um toque da campainha retirou Flor de seus tormentos. Abriu a porta, mas não viu ninguém e, quando voltou-se, novo envelope de Brux.
                                OBRIGADA!
Mas que feiticeira irritante! O que ela quer? Me enlouquecer? Cheia de códigos... Detesto códigos! Já não chega os do banco, do computador?
Aquele dia foi longo e penoso para a nossa Florzinha impaciente.
À noite, com aparência bem prejudicada pelo excesso de lágrimas, recebeu um telefonema:
- Mademoiselle?
- S-sim.
- Pardon, mas costumo não atenderr telefonemes enquanto trrabalho porrque atrrapalha minha linha de raciocínio.
- Não tem importância. O que era pode esperar.
- Posso ajudarr?
- É que eu gostaria de preparar os convites para a inauguração do C.E, mas precisava antes saber a data.
- Bom, eu acrredito que isso deve serr trratado prrimeirr com madame Brux. Concorrda comigo?
- É claro, você tem toda razão. Isso tudo é por conta da minha ansiedade. Desculpa.
- Permite-me sugestón?
- Certamente! Fale, por favor!
- Faça prropagande, boca a boca com seus amigos, conhecidos, colegas de trrabalho, entrre outrros.
- Ai, meu Deus, como não pensei nisso?
– Faz parrte do prrocesso de ansiedade diante de um prrojeto, mademoiselle.
- Mil desculpas!
- Non prrecisa se desculparr tanto. Posso fazerr um convite?
- Convite? Claro!
- Podemos jantarr juntos amanhã?
- É... vou verificar na agenda se tenho alguma coisa marcada. Espera um instantinho?
- À vontade.
Flor andou de um lado para o outro, correu até o espelho e não viu a Flor espelho e aí voltou, respirou fundo e mandou:
- Eu tinha um compromisso, mas foi desmarcado. Então, amanhã a que horas?
- Às nove, está de acorrdo?
- Ótimo! Obrigada e até amanhã então.
- Até amanhã.
Flor corre para o espelho novamente.
- Ei, que brincadeira é essa agora de se esconder, hein moça?
- Eu estava aqui o tempo todo. Você é que não viu! Sua atenção estava toda lá no monsieur...
- Você devia estar feliz, alegre comigo. Parece que está com raiva de me ver feliz!
- Não é nada disso. É que já te vi tantas vezes fazendo a mesma coisa... Agora, cá para nós, a desculpa da agenda foi ridícula!
- Ah, já fiz e acabou. Ele não viu!
- Mas você viu, eu vi!
- Mas ele nunca vai saber mesmo. Aliás, eu nem sei se vou a esse tal jantar...
- Hum... como se eu não te conhecesse. Agora, sim, vai pegar a agenda, ligar para o esteticista, maquiador, salão, quer apostar?
- Não vou não.
- Boa noite, mademoiselle!
- Alô? Pierre? Tudo bem, querido? Tem uma vaguinha para mim amanhã? Surgiu um convite de última hora e eu tenho que estar linda, n’é?
Dia seguinte, às 8h50m, após umas mordidelas (escondidas, claro!) num barrão de chocolate, sempre à mão para emergências, o telefone tocou:
- Mademoiselle Flor?
- Sim.
- Estou à sua esperra.
E daí a instantes estavam os dois frente a frente, lindos, caprichados e elegantes como nunca!
Foram a um restaurante francês que ficava num lugarzinho muito pitoresco da cidade. À luz de velas, música ambiente, aconchegante e aquele vinho... Ai, que sonho!
- Ai!
- Que aconteceu, Florr? (Pela primeira vez ele a chamou diretamente pelo nome.)
- Nada! Eu me machuquei sem querer. (Ela havia se beliscado para constatar se estava acordada mesmo. Essa Flor...)
- A prropósito, madame Brux pediu que você comparreça ao sobrrado amanhã sem falta.
Pronto! Foi o suficiente para quebrar o clima. O romantismo cedeu à preocupação e Flor nem dormiu direito. O que poderia ser? Se ela se utilizava de envelopes misteriosos para comunicar-se por que dessa vez utilizou-se do um recurso tão humano? O que poderia ser?
Dia seguinte, cedinho, ela já estava pronta quando se lembrou da hora: 9h. Essa era a hora de Brux. E toma a esperar...  ai!
Por fim, ligou o Possante e se foi. Mil perguntas e sem resposta, o que era pior.
- Brux?
- Venha até o sótão.
- O que aconteceu? Você me deixou nervosa.
- Preciso de uma informação muito séria:
- Que informação, meu Deus? Fala logo, mulher!
- Os recursos financeiros, Flor. Quem vai pagar tudo isso?
- Não se preocupe. Já tenho patrocínio garantido e as reservas mantidas já cobriram as despesas iniciais.
- E eu, mademoiselle? Está se esquecendo de mim?
- Como você é injusta!
- Não se trata disso. Quero saber qual será o meu papel em tudo isso.
- Ah, Brux, que susto! Você pode preparar e ensinar poções, gastronomia especial para os apaixonados, contar estórias, ler as Runas... Você é muitas! E as pessoas são tão carentes, Brux!
- Está certo. Mas você vai me prometer uma coisa:
- O que é?
- Quando eu precisar voar, você assume tudo.
- Mas voar para onde, Brux?
- Você está se esquecendo de que eu sou uma Bruxa?
- Claro que não! Jamais vou me esquecer disso.
- Tá bom. Tomamos uma chá?
- Que delícia de convite. Chá de quê?
- Segredo.
Sentaram-se num banco rústico da cozinha, e Flor sentia em sua alma uma tranquilidade e confiança que não se lembrava de sentir há muito tempo. Minutos parecem eternizar-se ao lado de alguém tão especial que, embora recém-chegado à nossa vida, parece um velho amigo retornando após um bom período de ausência. Como pode ser isso?
- Está preparada para a mudança? Disse Brux, tirando-a de seus devaneios.
- Que mudança?
- A mudança da sua vida, ora!
- Está tudo tão bom, para que mudar?
- Está enganando a quem?
- Ora, Brux, assim você me desconcerta!
- Esse é o papel das Bruxas: desconcertar. Porque é no desconcerto que o acerto acontece. Cuide-se.
Brux pela primeira vez a acompanha até o portão por uma entradinha ao lado direito da casa. Lá dentro, a obra desenvolvia-se com a rapidez idealizada por Flor, que trabalhou arduamente na propaganda do novo espaço de encontros esotéricos, entre seus amigos, colegas e pessoas de sua convivência, como prestadores de serviço. Todos estavam em contagem regressiva para o grande acontecimento.
Na antevéspera da conclusão do projeto mais um envelope de Brux.
                      O TEMPO DA MUDANÇA SE APROXIMA.
                                         PREPARE-SE.
Flor estava numa ansiedade de dar dó! Que mudança era aquela? Às vezes os sentimentos se confundiam dentro dela. Gostava de Brux ao extremo, mas às vezes não dominava aquela raiva que sentia dela, dos seus mistérios. Já não fora declarada a amizade entre elas? Para que mais mistérios então?
Mas amigos de verdade são assim mesmo. Quando Flor pensou em repousar um pouquinho, o telefone chamou.
- Mademoiselle?
- Oui. Arriscou num francês bem tímido.
- Que lindeza! Tem algum comprromisso parra hoje a noite porr acaso?
- Por acaso não. Estou de férias e apenas no sábado à tarde vou precisar ir ao clube.
- Você gosta de dançarr?
- Ah, Colibri, eu amo dançar!
- Soube que bem prróximo daqui tem um grrupo de salsa. Você gosta desse ritmo?
- Muito, muito!
- Então às 10h, pode serr?
- Ótimo!
Só então Flor se deu conta que não tinha que ter marcado nada assim, sem pensar! E seu cabelo? E a maquilagem? Depilação, roupa? E agora? Lembrou-se então de Dália, uma vizinha muito habilidosa nesses assuntos. Pediu ajuda, e Dália, sempre prestativa, só pediu um tempinho para terminar uma tarefa e rapidamente seguiu para sua casa pronta a ajudá-la. Tudo pronto, mil olhadelas no espelho, pedindo a opinião de Flor-Espelho que apenas sorria e segredava: Você está linda!
A barra de chocolate diminuía sensivelmente. Antes de soar o tão esperado telefone, ela percebeu mais um envelope e desta vez sobre sua cama:
A REALIDADE É FEITA DA MESMA MATÉRIA QUE OS SONHOS
Flor assustou-se com a campainha do telefone.
- Estou à sua esperra.
- Tô indo!
Apenas o idioma dos sonhos seria capaz de descrever a beleza daquela noite entre Flor e Colibri. O néctar da alma só saboreiam aqueles que não resistem ao chamado de Eros. A frase de Brux fazia-se clara para ela que finalmente encontrara seu tão sonhado amor.
Queria correr até Brux e abraçá-la com todo o carinho que transbordava de seu coração, mas estava nos braços de Colibri que a cobria de beijos, carícias e as mais belas declarações de amor que sempre sonhara ouvir...
A manhã surpreendeu-os ainda abraçados num prolongamento do diálogo entre seus corações que saboreavam o doce prazer do encontro. Ao se separarem, ele pediu a ela que fosse até a casa de Brux mais tarde, para verificar se tudo estava de acordo. Ela exultou porque esse era seu grande desejo desde que tudo aquilo começara a materializar-se.
Era chegado o momento de reformar o quarto onde Brux estava desde o começo da obra. Encontrou-a junto à cisterna com uma expressão enigmática como se estivesse ouvindo alguém que Flor não via.
- Oi, Brux!
- Oi, Flor! Já, já, falo com você.
Flor esperou alguns segundos e em seguida ela aproximou-se lentamente da amiga.
- Eu estava terminando de ouvir uma bela história.
- De quem?
- De Tenor, é claro. Você não o viu?
- Não.
- Então olhe agora e com atenção. Ele está acenando pra você.
Flor, então, olhou atentamente e viu um charmoso sapinho verde, muito elegante, de gravatinha borboleta, alegremente acenando para ela.
- Ai, que gracinha! Posso saber o que ele falava com você, Brux?
- Hum, hum. Um certo romance entre um ser alado que quer se aquietar num ninho e uma jovem flor que deseja suas asas.
- O que você está querendo dizer com isso, Brux?
- Eu não disse nada apenas repeti para você o que ouvi de Tenor.
Finalmente chega o grande dia da tão esperada festa de inauguração. A casa absolutamente transformada provocava em todos um oooh de satisfação. Brux preparara uma entrada triunfal que nem Flor esperava ver.
Vestindo um longo preto com uma corrente de prata quase à cintura que exibia um pingente especialmente desenhado para ela: uma graciosa vassourinha prateada com algumas pedrinhas em brilhante. Os olhos negros e misteriosos eram marcados por uma sombra preta e prata, que lhe acentuavam o mistério.  Os lábios discretamente delineados por um batom cintilante claro. Ao seu lado, tão imponente como ela, Ariosto que a seguia como um cão fiel.  Avínia, pousada em seu ombro, dava a ela um quê de sacerdotisa atraindo para si todos os olhares e mantendo-os semiafastados ao mesmo tempo.
Nesse clima de mistério e magia, ela toma de um microfone e convoca:
- Monsieur Colibri, por favor, cumpra o que combinamos.
Colibri aproxima-se de Brux, beija-lhe as mãos com delicadeza e, olhando para todos, agradece a oportunidade de demonstrar seu talento e anuncia:
- Porr favorr, mademoiselle Flor, venha até mim.
Flor então sobe a escadaria, posiciona-se entre Colibri e Brux e quase desmaia ao ouvir o grande segredo muito bem guardados entre aqueles dois seres tão especiais na sua vida:
- Senhorras e Senhorres, eu, Monsieur Colibri, tenho a honrra de anunciarr meu noivado com Mademoiselle Flor e faço, diante de todos, um pedido muito sérrio parra mim:
- Mademoiselle aceita meu pedido de casamento?
Flor olha para ele e para Brux sem acreditar no que ouvia. O silêncio que se fez pareceu eterno a todos que ali estavam e a multidão, que já traz em si o germe da impaciência, irrompeu em um delicioso coral:
- Aceita! Aceita! Aceita!
- Sim, mon amour! Foi a resposta de Flor ao seu inseparável Colibri.
A vida prosseguiu seu curso e, na contramão da história do eterno romance entre um Colibri e uma Flor, um casamento arranjado por uma Bruxa!
Um dia, Flor encontra sobre a mesa do hall de entrada, um envelope e uma caixinha ornamentada com luas, estrelas, sóis e nuvens. Dentro da caixa um talismã: a minúscula vassoura mágica que passava por todas as gerações dos aprendizes de Magia.
“Se apenas com um olhar alcançamos a lua, podemos alcançar também nossos amigos e amores em quaisquer lugares onde eles possam estar.”
                             Eternamente, Brux.
Brux voou ao encontro do Grande Mago, Mestre dos Sortilégios e das Magias para aprofundar seus estudos nessa difícil arte.
Flor chorou lamentando a ausência daquela amiga tão especial, mas consolou-a Colibri, lembrando que o presente mais caro a qualquer um de nós sempre provém dos grandes amigos: a liberdade. Só através dela atingiremos o destino tão desejado por todos nós: a felicidade!
Brux, apesar de ausente, parecia estar em todos os lugares da Rua Projetada, n° 3333, onde morara durante tantos anos.
Numa tabuleta. em escrita pirográfica, um artista gravou o seguinte: 

“Onde houver um gato-conselheiro, uma coruja-carteiro e um sapo-cantor, cuidado! Por perto teremos sempre uma Bruxa sempre pronta a nos enredar com seus sortilégios. Não tenta decifrá-la, porque ela é enigmática, e jamais tenta prendê-la, porque ela é feita de luares e te escapará pelos dedos, estando onde menos esperares e nunca onde tu pretendas.”

Pontos finais ou a palavra fim jamais aparecem em estórias de magia porque o caldeirão da Bruxa em momento algum interrompe a fervura das idéias e o cozimento do desejo de qualquer mortal: ser feliz!