quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

O irmão

 

- Por que as lágrimas, Florisbela?

- Não tenho sorte no amor, madrinha. Cupido sempre acerta o alvo errado. Para os outros tudo dá certo, mas pra mim...

- Pois vou te contar uma história sobre Cupido que quase ninguém sabe.

Ele tinha um irmão gêmeo, Odipuc, que nunca foi mostrado ao mundo, porque nasceu com um problema ocular deveras complicado.

Bem, como os deuses e deusas, fadas e magos nunca usaram óculos – aliás, naquela época nem existia -, o gêmeo ficou recluso nas dependências do palácio de Afrodite, para que o mundo não conhecesse aquele fato.

Acontece que, em se tratando de deuses, é praticamente impossível mantê-los presos por muito tempo, onde quer que estejam. E de quando em quando, Odipuc, com muita cautela, para não despertar a ira de sua mãe, sai pelo espaço treinando seu arco e flecha.

Porém, como até hoje seu desvio ocular não foi resolvido, ele sempre acaba errando o alvo e fazendo os corações femininos ficarem assim, cheio de curativos, como o seu.

- Mas como você sabe disso, madrinha?

- Eu também fui flechada pelo irmão de Cupido, minha flor.

- E será que ninguém pode fazer nada para mudar isso?

- É comum os deuses ajudarem os mortais na resolução de seus problemas, Florisbela, mas o contrário eu acho impossível!

- E se a gente...

E Florisbela, munida de papel, réguas e uma infinidade de lápis, como toda boa arquiteta, traça um plano tão mirabolante para ajudar o irmão de Cupido, que madrinha não sabia se ria ou chorava condoída daquele coraçãozinho que ela tanto amava e só desejava vê-lo feliz.