quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Tempos e modos

                            

Imponente e imperturbável, os passos calculados, um charmoso senhor passeia pelas ruas estreitas de uma de suas propriedades nesse mundo de meu Deus: é o Tempo.

Veste-se com uma elegância discreta, fala baixo, senta-se na pracinha para observar os passantes, analisar os forasteiros, ouvir os passarinhos, as juras dos namorados, as modas de viola e discretamente, espichar o olho para ver os rabiscos de um pretenso poeta que endereça seus versos à lua, pensando na mulher amada.

Coisas assim, naquela cidadezinha emoldurada por montanhas, estâncias em flor, águas minerais, de hábitos noturnos com portas encostadas e janelas abertas, onde o Tempo se debruça para olhar a vida que prossegue em passos nupciais.

Uma curiosidade na cidadela, que de fictícia nada tem, é que de hora em hora, só para interromper o cochilo gostoso de Silêncio, surge o trem com seu  apito vigoroso.


E Silêncio então - só para disfarçar - levanta-se, passa a mão nos cabelos, olha o horizonte, visita alguns lugares e volta a cochilar na certeza que será interrompido, mais uma vez, pelo apito que, provocante, convida, desperta, excita e alerta, na noite negra ou no dia azul da charmosa cidade de Paraíba do Sul.

3 comentários:

  1. Narrativa primorosa, Dirce! Encantada, revisitei a cidade surpreendida por seu olhar especial. Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Poeto spiras alispecan aeron - la aeron de sentemo kaj liriko. Fakte, la mondo estas tia, kia nia rigardas ghin! Poezio konstruas por ni ian novan pejzaghon. Bele!

    ResponderExcluir
  3. Um cenário maravilhoso que retrata a simplicidade despertada por um apito de trem. Me fez recordar uma cidadezinha do nordeste, onde morei alguns anos.Adorei !

    ResponderExcluir