Quando
visitei Brux, a minha inseparável amiga, ela encontrava-se muito envolvida com
seu mais novo companheiro: um pequeno lagarto que ela recolhera na rua,
compadecida pelo sofrimento silencioso do animal que ferira a patinha dianteira
ao saltar sobre um caco de vidro, semienterrado no
solo.
Brux
penalizava-se do animalzinho e ao mesmo tempo irritava-se com as pessoas que
agiam de tal forma, sem se importarem com a consequência de seus atos, como
também, com as outras que passavam indiferentes, incapazes de pelo menos
removerem esses objetos perigosos para um lugar adequado.
Quantas
vezes um pequeno gesto é capaz de salvar tantas vidas!
- Você
nem imagina as ideias que me passam pela cabeça quando vejo isso...
- Imagino
sim, Brux. Sei o quanto você se incomoda com injustiças, mas o mundo nunca foi
justo mesmo! Posso ver o seu novo amiguinho?
- Claro!
E lá
estava ele... verdinho, verdinho... A cabeça levantada, olhos semicerrados,
recebendo o calor do sol, sobre o peitoril da janela. Um belo animal, cujos
traços nos contavam sobre o seu parentesco distante com os extintos
dinossauros, os primeiros habitantes do nosso planetinha azul.
Dava uma
vontade de tocá-lo, dizer-lhe algo, mas...
- Por que
tanta indecisão? Realize o seu desejo, ora!
Embora um
tanto desconcertada diante de sua sagacidade, cheguei mais perto do lagartinho,
torcendo para que ele não fugisse de mim.
Não fugiu.
Fiquei radiante!
Sensação
indescritível essa, quando conseguimos realizar algum desejo aparentemente
impossível. O coração parece que produz uma substância especial que nos dá a
impressão de criarmos asas...
Brux
improvisara um espaço deveras lindo para o seu amiguinho num nicho da sua
estante de livros e ainda esculpiu numa plaqueta o nome que escolhera para ele:
DINOSAŬRETO
|
Certamente
não pude deixar de perguntar a ela o porquê daquele nome.
- Desde o
dia que o trouxe para casa, este espaço vazio da estante foi imediatamente
escolhido por ele para ficar. Muitas vezes demora-se longo tempo olhando para
os livros como se desejasse ler um por um. Então decidi homenagear o amiguinho
com um título muito nobre do Esperanto que é oferecido aos que se dedicam
amorosamente à Literatura e têm pelos livros uma quase veneração.
- E
parece que ele gostou, Brux.
O pequeno
lagarto, como em resposta, virou a cabeça em nossa direção, desceu da janela e
seguiu para a sua “casa” suspensa.
No dia
seguinte percebi, no semblante da velha amiga,
um ar de tristeza ao ver que seu protegido havia ido embora.
- Brux,
você pode encontrá-lo facilmente. Conhece os meios para atraí-lo e mantê-lo,
junto a você.
- É
justamente por saber, que não uso tais artifícios que também não lhe são
desconhecidos. Penso que o verdadeiro prazer da vida consiste em deixarmos sem
trancas as portas da casa e do coração, para que quem sai volte por livre e
espontânea vontade e não por imposição, exigência ou manha da nossa parte.
Algumas
pancadinhas na porta interromperam o nosso diálogo.
Numa pose
encantadora ele, cujas pancadinhas fizera com a ponta da cauda, ficou ali, com
a cabeça alta e o corpinho suspenso sobre as patas dianteira a nos olhar, como
se esperasse ser fotografado...
E eu fiz isso!
Gostei da volta da nossa enigmática e sábia Brux nesse gracioso conto!
ResponderExcluirBrux estas magia, en sia delikateco kaj sentemeco.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMágico e encantador !
ResponderExcluirA tua mente voa . . . e nós voamos com você.
Obrigada !