quarta-feira, 22 de março de 2017

Bolinhos de chuva



Bolinhos de chuva: uma iguaria muito apreciada no Brasil, principalmente no interior, com o café fresquinho, compõe grande parte da minha história.

Porções de trigo, açúcar, ovos, uma pitada de sal, água e vinagre, produzem a massa, que frita em pequenas colheradas, vai formando as gotas douradas e apetitosas, que passadas numa mistura de açúcar com canela em pó, é uma delícia ao paladar.

Ao paladar ou ao coração?

E vejo tia Hilda, uma das irmãs de papai, com seu sorriso generoso e sua voz macia, preparando a receita simples - foi assim que aprendi - no fogão de lenha, na espaçosa casa rural, com árvores  debruçadas na beiradinha da janela, como se fossem membros da família.

Depois, todos nós ao redor da mesa, saboreávamos a iguaria, ouvindo as histórias, reais ou fictícias contadas, sem pressa alguma por nossa tia, uma espécie de fada do lar, com seus dotes e dons naturais ou adquiridos, que iam da culinária ao bordado, da costura às rezas e benzeduras, dos chás aos licores. Isso sem falar nas lições de amor e dedicação que passava a todos nós, e, sem sermões, o que é mais importante.

E então chegou a minha vez de ir preparando as colheradas dos famosos bolinhos, que eu fazia com muito gosto para as filhas que Deus me confiou aos cuidados. 

E era para mim uma alegria só.

Hoje, tentando driblar o tédio, eu preparo os bolinhos de chuva, mas vejo tristemente que seu verdadeiro sabor estava contido na presença das pessoas e do cenário que eu vivia.


Proust estava certo...

5 comentários:

  1. Kia bela, delikata, sentoplena kronikaĵo! Oni povas ĝui la odoron kaj guston de tiuj tradiciaj kuketoj. Ankaŭ mi gustumis ilin en familia etoso, antaŭ multaj jaroj. Via teksto revivigas malnovajn, korvarmigajn momentojn...

    ResponderExcluir
  2. Que deliciosa crônica! Deu vontade de comer esses bolinhos...
    Muito poético, melancólico e verdadeiro o último parágrafo: "seu verdadeiro sabor estava contido na presença das pessoas e do cenário que eu vivia."

    ResponderExcluir
  3. Sincerajn gratulojn Dirce por elvoki perfekte kion mi feliĉe ankoraŭ vivas en la bieno Bona Espero. Ni kune manĝas tiujn samajn kuketojn kaj gravas, ke multaj homoj kun vi ĝuas tiujn momentojn. Venu iam, por ke ni kune manĝu niajn verdajn kuketojn! Brakume Ursula

    ResponderExcluir
  4. Dirce tre plaĉis al mi la recepton pri la bongustaj kuketoj, tiuj rekordoj estas agrablaj plenumas nian koron da amo kaj la kuketoj, satigas nian stomakon.

    ResponderExcluir
  5. Os momentos felizes e simples vividos em família são as mais doces lembranças da vida, que você retrata com tanta poesia.

    ResponderExcluir