Encontrei Shakespeare em frente a estante de Literatura Estrangeira.
Se eu trabalhasse em outro segmento escolar, talvez estranhasse o acontecimento, mas na Sala de Leitura é fato comum a qualquer
momento esbarrarmos com autores dos mais diversos.
- Bom dia, Sir Willians.
E ele, olhando-me sem surpresa, respondeu gentilmente:
- Bom dia, Mrs.
- Posso ajudá-lo?
- Não quero incomodar.
- Oh, além de ser um prazer, faz parte do meu trabalho.
- Procuro um livro.
- Sobre o que?
- Sobre o século atual.
- O século XXI.
- XXI?!
- Justamente.
- Não é possível!
E olhando detidamente para si mesmo, para mim e em
torno, ao deparar-se com um computador, não se conteve:
- O que é aquilo?!
- Ah, é um computador. Venha, vou mostrar-lhe como
funciona.
Impressionava o ar de incredulidade no rosto do
escritor, que examinava atentamente a máquina, entre a surpresa e a
curiosidade, sendo finalmente vencido por esta.
Numa viagem virtual fomos até a Inglaterra e Sir
Willians absolutamente aturdido, sentou-se e fez a pergunta que eu já esperava:
- Estaria eu sonhando?
- Não, Sir, tudo isso é real.
- Mas não consigo compreender tal realidade! Vejo
pessoas como eu, mas vestidas de forma absolutamente fora dos costumes da minha
época, a minha Inglaterra com máquinas estranhíssimas, carruagens sem cavalos, construções
que até mesmo em minhas histórias, eu jamais poderia imaginar...
- São marcas e conquistas da evolução.
- E aqui onde estamos seria alguma parte ainda não
explorada da Inglaterra, eu suponho.
- Não. Aqui é o Brasil, na parte sul do Continente Americano.
Sir Willians, olhando-me sem crer em tudo que via e
ouvira, pediu-me uma pena e um bloco de anotações.
Ao passar-lhe uma esferográfica, ele ergue os ombros,
afasta as mãos e acrescenta:
- Onde está o tinteiro?
- Essas penas, ou canetas, como se chamam na
modernidade, não precisam de tinteiro. Possuem uma esfera pequenina na ponta,
que libera a tinta ao ser friccionada, demonstrei rabiscando uma folha de
rascunhos, aumentando a perplexidade do escritor.
- Estaria eu em algum castelo de Merlin? Aquele mago é
capaz de tudo!
- Merlin talvez seja responsável por sua viagem no
tempo. O senhor está na Biblioteca de uma Escola Pública, alguns séculos após o
seu. Veja! Temos todas as suas obras, ou quase todas...
- Meus livros no futuro?!
- Sim.
E os olhos do velho escritor marejaram-se ao ver exemplares
em inglês e português como: O Rei Lear, Macbeth, Sonho de uma Noite de Verão,
Otelo, Romeu e Julieta, O Mercador de Veneza, Hamlet, A Megera Domada, suas
criações seculares compondo uma das estantes sem pompas ou arabescos, mas
colorida e em linhas retas, de uma escola pública do século XXI.
E eu, por saber que ninguém acreditaria num fato tão
pitoresco, decidi escrever, porque a Literatura encerra a doce magia de
emprestar um ar de realidade ao que nos parece impossível de acontecer.
Você apresenta como imaginação o que é possível no Mundo Espiritual. Parabéns!
ResponderExcluirMais uma narrativa deliciosa, Dirce!
ResponderExcluirJá estava com saudades!
Bonege! Ni vidas la scenon kvazaŭ en filmo. Eble la proksima homo por dialogo povus esti Zamenhof? Kion li pensus pri la nuna mondo kaj la ekzisto de lia lingvo en ĝi?
ResponderExcluirQue delícia !!!
ResponderExcluirPor alguns minutos acabei viajando no espaço-tempo e fui para na tal Biblioteca de uma Escola Pública. Me esqueci totalmente do local onde realmente me encontrava e me vi envolvida nos assuntos de Sir Shakespeare.
Só uma palavra: A M E I !!!
Querida, fico feliz por você. Muito show este trabalho. um enorme beijo para ti
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