quinta-feira, 16 de abril de 2015

Chave



Mãe tá brava.
Quando fica assim, guarda as palavras sei onde não.
Manda o olhar pra tão longe, mas tão longe, que nem atino onde fica esse lugar.

Mãe tá brava porque o dinheiro não chega nem pra comprar o pão.
Mãe trabalha muito, mas o dinheiro tem sobrado nada.

A vela de Santo Antônio ela apaga pra economizar.
E reza todo dia.

Eu posso fazer nada pra mudar essa situação.
Conheço mãe. Conheço. Mas ela sabe não.

Falta pra ela a moeda. 
Pra mim falta o som, a fala, a comunicação.

Pra ela falta um trabalho certo.
Falta pra mim o movimento, a ação.

Mãe pensa que não sinto, que não sei, mas ela sabe nada não.

De mim, só eu tenho a chave...


3 comentários:

  1. Lembra aquelas mocinhas do interior debruçada na janela, que sonha com uma vida diferente , mas nada faz pra mudar e ainda critica a mãe que não sabe falar.... Amiga você tem que editar estes contos !! Parabéns!

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  2. Lirismo tecido com o fio da simplicidade da fala do filho,
    sob o viés desse personagem tão ricamente simples.
    E o desfecho, muito elegante, poético. Bela narrativa!

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  3. Poeziajho kiu lasas, ke la menso de leganto flugu foren kaj imagu, imagu... Jen la magio de Poezio!

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