Onde quer que estivesse, Eustáquio ouvia quase sempre a
mesma resposta aos seus lamentos:
“Tudo tem um lado bom!”
E ele saía furioso porque acreditava que sua queixa tão
justa contra aquela maldita alergia, era vista como deboche.
Quem falava que tudo tinha um lado bom, não sabia o que
era passar pelas crises de espirros sucessivos que lhe sucediam ao ter contato
com qualquer tipo de flor.
O coitado do homem quase perdia a respiração e a razão
também!
Tudo passava a ser motivo de recusa: casamentos,
aniversários, até enterros!
- Pra quê morto precisa de flores? Já morreu mesmo! O
lado bom é que já não sente mais cheiros, e sendo assim, se for alérgico como
eu, não vai ter mais problemas.
E o gênio ruim de Eustáquio se agravava por conta da
maldita alergia, que era como ele classificava o distúrbio.
- Procure um médico, Eustáquio! Reclamava a mulher, já
esgotada com a atitude do marido.
- Esses incompetentes só sabem entupir a gente com
aqueles malditos antialérgicos, que dão tanto sono que se bobear, o sujeito cai
no meio da rua! E eu faço o quê da vida? Preciso estar acordado, e bem
acordado, pra trabalhar. Como vou ficar no trabalho, feito um sonâmbulo? Devia
mesmo era morrer de uma vez!
- Pare de blasfemar, homem! Agradeça! Quem sabe essa
alergia ainda venha a salvar-lhe a vida!
- Ora, vai pro inferno!
E a mulher se benzia e pedia perdão a Deus pelo
descontrole do marido, que era um bom homem, responsável, honesto e trabalhador
e sofria muito mais pela impaciência que pela alergia.
Até que um dia, vítima de mal súbito, Eustáquio
enfartou.
Declarada a morte, foi levado para a capela mortuária e
o serviço funerário, cumprindo as normas contratuais, cercou o corpo com as
famosas flores de defunto.
Capela cheia, aquele ambiente pesado e comprido, de
repente o inusitado: o falecido começou a espirrar! e sentando-se no caixão,
gritou a plenos pulmões:
- Quem foi que me cobriu com essas malditas flores? Que
brincadeira estúpida é essa?
Ele não havia se dado conta da gravidade da situação e
quando afinal, percebeu o que se passava, tremendo, suando e gaguejando,
implorou que o tirassem dali o mais rápido possível!
Os piedosos presentes, como alguns colegas, vizinhos e
parentes de Eustáquio, antes de socorrê-lo, como que regidos por um maestro
invisível, bradaram a uma só voz:
“Viu, Eustáquio, tudo tem um lado bom!”
Não se sabe por quais mecanismos da mente, o nosso
personagem não só curou-se como passou a cultivar esses seres tão maravilhosos
que Deus usa para ornamentar a Terra.
Na entrada de sua casa, uma placa de madeira entalhada
com flores exibe a seguinte frase esculpida em 3D, com esmero:
TUDO TEM UM LADO BOM!
Deliciosa crônica narrativa! Todos os ingredientes bem dosados com as tintas do humor, sem perder a linha filosófica típica da crônica: "tudo tem um lado bom!".
ResponderExcluirĈarma, iom komika, certe instrua rakonto!
ResponderExcluirBona instruado pri la vivo.
ResponderExcluir
ResponderExcluirMuito legal !!!! Parabéns minha querida !
Adorei!!! Continue escrevendo seus contos, Dirce.
ResponderExcluirTrazem sempre uma mensagem bonita!
Adorei!!! Continue escrevendo seus contos, Dirce.
ResponderExcluirTrazem sempre uma mensagem bonita!