Zuzu, o porquinho cor de rosa, soluçava
tristemente, com a carinha apoiada na abertura da alta sacada da casa onde ele
vivia.
- Oh, que triste sorte a minha... Eu gostaria de
ganhar asas para libertar-me desta prisão.
De repente, um barulho forte de asas imensas e
vigorosas, intimidaram o pequeno animal.
- Não tenha medo, Zuzu. Sou eu, Hans, o ganso
guardião dos sonhos de todos os animais.
- Oh, muito obrigado por sua visita, bondoso guardião!
Estou tão triste e angustiado, que mesmo me sabendo totalmente sadio, sinto
dores no corpo inteiro...
- Fale sobre a sua angústia amiguinho. O diálogo é um medicamento bom e
costuma ser eficaz contra os males que
nos afligem a alma.
- Meu problema central é sobre a imposição dos
humanos em minha vida. Sou um animal e a natureza me deu os meios necessários
para que eu viva bem.
- No entanto você tem uma vida luxuosa, Zuzu.
- Com efeito! Mas alguém me perguntou se eu preciso
disso? Eles impõem a mim suas próprias condições e necessidades humanas, como
se tivesse perdido o meu papel de animal na natureza!
- De fato há pessoas que são incapazes de
reconhecer e aceitar os aspectos simples da vida.
- Eu permaneço distante do solo e das estrelas,
encarcerado nessa verdadeira torre e totalmente sozinho... Por isso desejei ter
asas.
- Veja, as pessoas desejam humanizá-lo e você quer
ser uma ave?!
- Perdão! Muitas vezes, a solidão, a falta dos
nossos pares para trocarmos confidências, medos, carícias e outras coisas,
momentaneamente, faz com que percamos o equilíbrio emocional.
- Você não precisa pedir perdão,
criança! Asas você não pode ganhar, mas...
- ... mas o quê, Hans?
- Eu posso levá-lo a um voo pelo
infinito, se você não tiver medo.
- E como seria isso?
- Suba nas minhas costas – disse o ganso, abaixando
o seu corpo.
E logo, logo, o céu ganhou uma estranha cena: um grande e vigoroso ganso
voando com um porquinho grudado em seu dorso.
Zuzu sentiu-se tão feliz, que esqueceu totalmente
as angústias do coração.
Viu outros povos, outros costumes, montanhas, rios,
mares, bosques, florestas, fazendas, animais... Muitas coisas viu Zuzu.
Quase no começo da manhã, Hans devolveu o porquinho
a sua moradia.
- Você voltará, Hans?
- Sim! Quando puder, voltarei.
- Mas o que eu poderia fazer para não me sentir tão
chateado?
- Escreva histórias, Zuzu. Até breve!
- Até… Hans! Um momentinho,
por favor.
- O que houve? Disse o ganso, dando uma meia volta
no ar e apoiando-se sobre a sacada.
- Em que língua eu devo escrever as histórias?
- Boa pergunta! Escreva em Esperanto.
- Por quê?
- Porque só assim cada povo poderá traduzir para sua
própria língua, ampliando o conhecimento e o prazer de ler.
Nota: este conto foi escrito por mim, originalmente na Lingua Internacional Esperanto e publicado na Revista Brazila Esperantisto, editada pela Liga Brasileira de Esperanto, com sede em Brasília, DF
Graciosa fábula com epílogo duplamente feliz pela alusão ao Esperanto.
ResponderExcluirChama fabeleto...
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