Ela surgiu de repente na curva da esquina e olhando-me nos olhos disse num arroubo:
- Salve, cigana!
Talvez pela minha preferência às saias longas e coloridas, os colares, o leque...
- Salve! Respondi cordialmente.
- Sabe, cigana, eu falo várias línguas e sei que você também há de falar.
- Apenas duas.
- Se vivo nas ruas e ando um pouco rota, a pele encardida, as unhas sujas e o cheiro não muito agradável é porque sofro de abandono. Você sabe o que é isso?
- Certamente. Afinal, sou mulher!
- E sábia.
- Ah... Se fosse sábia não sofreria...
- Posso pedir uma coisa, cigana?
- Se estiver ao meu alcance...
- Você me daria um abraço?
E diante de alguém que não esperava de mim qualquer bem material, num gesto espontâneo eu a abracei com a confiança e naturalidade de quem abraça um amigo.
- Muito obrigada! Deus a abençoe.
E se foi.
Imersa em meus pensamentos eu segui meu caminho analisando a complexidade do ser humano...
Nada mais precioso do que o carinho, item da cesta básica de de qualquer alma, quer sofra ou não de abandono. E você retratou isso com mágica leveza. Muito bom, Dirce!
ResponderExcluirBela mesagho en simpla rakonto. La mistero de la homa vivo solvita per simpla chirkaubrako.
ResponderExcluirMuitas vezes o pequeno ato de abraçar, reconforta, energiza e nesta hora, as palavras perdem o sentido e somente o gesto fala, responde e cala.. Eu adoro um abraço forte e sincero.
ResponderExcluirUm abraço cigana!