terça-feira, 4 de março de 2014

Dialética



                                             

Jogava-me pedrinhas a moça que vivia na Torre
E traziam bilhetes nelas enrolados, pequenos pergaminhos.
Ora falavam de amor, ora diziam versos.
Pequenos recados... Algumas recomendações
Segredos...
Às vezes eram rezas, verdadeiras penitências,
Quando a torre se fechava vários dias,
Noites seguidas, treva total.
Brecha alguma para a Imaginação ali adentrar.
Após o longo retiro, voltava ela. Sempre assim.
Por quê? Por que imputava sempre a si mesma
Aquela pena, a clausura...
Então ia surgindo aos poucos para não ferir
O olhar habituado ao negror da noite densa.
E voltava ela a me atirar as pedrinhas
Com suas mensagens delicadas, sutis.
Guardava as pedras num quase altar
E dos recados vertia poemas,
Poemas que falavam de um estranho amor entre
Um alguém na Torre e outro alguém na rua:
Um amor inverossímil entre mim e a Lua.

                                   


                     

4 comentários:

  1. Como sempre a delicadeza é a palavra-chave dos seus textos poéticos. Por isso eles sempre nos cativam e encantam.

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  2. Kia bela, nostalgia rakontpoemo. La sorchistino atingas per siaj versoj la delikatan parfumon de nekonata floro.

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  3. Com certeza, a feiticeira vai ganhar outra trovinha!

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  4. Está muito poética! Esse conto e a homenagem à Nazaré Laroca demonstram bem o seu perfil Parabéns!

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