sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Hóspedes


Quando minhas filhas eram pequenas, foi morar em nossa casa uma outra menina, que não sei se caberia dizer que fosse “arteira”, ou bagunceira, como queiram, mas sempre era a responsável pelas pequenas faltas cometidas pelas filhotinhas.
- Mãe, quebraram um copo.
- Quem foi?
- Não fui eu não, mãe. – dizia uma.
- Nem eu! Defendia-se a outra.
- Ah, tá! Já sei quem foi.
- Quem?! Perguntaram as duas, ao mesmo tempo.
- Foi a Petrusca. Cadê ela?
- Petrusca, mãe?!
- É, crianças. Vocês não sabiam que mudou-se aqui pra casa uma menina da idade de vocês e é danada pra quebrar louças?!
Elas riam o bom rir das crianças quando recebem a brincadeira, no lugar da bronca.
E assim a vida prosseguia...
Quando os colegas vinham brincar em casa, e esqueciam alguma lâmpada acesa eu alteava a voz:
- Petrusca! Você esqueceu a luz acesa!
Os colegas achavam graça do meu jeito de ser e riam.
Bom, as meninas cresceram, casaram-se e se foram.
Fiquei eu apenas, na casa despovoada dos risos, brincadeiras e algumas broncas, de vez em quando.
Petrusca? Apesar de nunca mais ter aparecido nem para uma visita, continua por aí, para aliviar a culpa das crianças.
Talvez quando as minhas meninas tiverem os seus próprios filhos, abriguem a menina Petrusca ao invés de brigarem com a crianças, que outra coisa não quer querem, senão brincar.
Um dia desses encontrei um dos meninos que brincava lá em casa, já um rapaz, que num largo sorriso, foi logo adiantando que sabia notícia das meninas, pelas redes sociais.
- E você, perguntou ele.
- Vou bem, obrigada.
- E a Petrusca?
- Você lembra?!
- Claro! Não só lembro, como conto aos amigos mais chegados sobre ela.
E ele nem sabia que lá em casa também moravam, Ariosto, Avínia, Tenor e Brux, respectivamente, um gato, uma coruja, um sapinho cantor e uma bruxinha, e quando as visitas chegavam eles se escondiam dentro dos cadernos, dos livros ou no bolso do meu avental.
Bom, dá pra ver que não sou uma pessoa muito comum, muito igual aos demais...  talvez seja por isso que quase não recebo visitas em casa, apesar de ter bons amigos.
Talvez as pessoas estejam muito ocupadas com seus múltiplos afazeres, afinal, a vida moderna exige muito das pessoas e a televisão, exige muito mais ainda.


3 comentários:

  1. A magia desse narrador é a ponte que nos faz transitar com leveza entre o cotidiano e a poesia; sem perceber ... Que delícia!

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  2. Belega! Delikata, sentoplena, malpeza, bonhumora, sagha, poezia.
    Estas plezuro legi tiun paghon!

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  3. Uma excelente forma para educar, sem deixar tantas culpas nas crianças. Usarei este método com meus futuros netos. Suas histórias são fantásticas !

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