domingo, 22 de setembro de 2013

Nico e Neco




Amarantes era um homem de poucas palavras e hábitos peculiares. Morava sozinho numa casa simples perto do rio Jaú.
Bom, sozinho, no dizer do povo mas não era bem assim não. Faziam-lhe companhia, Nico e Neco que ele tinha em consideração de gente da família...
- Tarde, Amarantes.
- Tarde, compadre Bento. Se aprochegue.
- Licença.
- Por gosto.
- Se abanque.
- Amarantes, o povo anda dizendo que o compadre tá variando,  falando com porco?!
- Oxe, oxe, oxe! Vosmecê fala de Nico e Neco? Eles são que nem gente! O Niiiiico! O Neeeeco! Anda cá mais eu.
E dos fundos da casa, surgem dois animais muito bem tratados e tão bem amestrados que eram incapazes de cometer qualquer tipo de sujeira, comum a um quadrúpede daquele tipo.
- Cumprimenta a visita, os dois.
E dava três pancadinhas no assoalho, induzindo os animais a dobrarem uma das patas dianteiras e abaixarem a cabeça, num cumprimento galante.
Bento bate palmas entusiasmado.
- Ora, ora Amarantes, pelo que eu vejo, o compadre consegue milagres com os suínos!
- Ói, Bento, milagre quem faz é Deus. Eu só faço tratar deles com paciência e carinho, oxente! Num é desse jeitin’ que todo mundo gosta de ser tratado? Os animais também. Nós tudo é fio de Deus, né memo?
- E o que mais eles fazem?
- Veja ocê memo. Nico, anda cá meu fio.
E lá vinha Nico, se balançando todo.
- Senta aí que eu quero falar mais ocê.
E o porco sentava-se, olhando firme para o seu dono
- Aqui, ocê vai lá dentro e pega o fumo de rolo pro seu veio aqui, vai.
E preparava a palha para o cigarrinho habitual.
O porco levantava-se, ia até ao quarto ao lado onde via-se uma bancada baixa e pegava o fumo com a boca vindo colocar aos pés de Amarantes.
Os olhos de Bento brilhavam num misto de surpresa e interesse.
- Amarantes, o compadre nunca pensou em ganhar um trocado com esses animais não?
- Ói, Bento, ocê deve de tá é variando. Eu num careço de nada disso por causa de que Nico e Neco véve aqui mais eu, desde pequetitinho anssim, ó – e demonstra com a mão sobre o assoalho. E ocê se dê por muito feliz deu num atiçar os dois mode dar uma bocada nesse seu traseiro gordo. Aaara! Já se viu? Querer explorar a criação de Deus nosso Pai? É por causa disso memo que eu prefiro viver sozinho mais eles, que pelo menos nunca me aporrinham o juízo! Inté!



6 comentários:

  1. Dirce, você está me saindo melhor que a encomenda.... Me matou de rir, bruxinha! :) Amei!!! Beijos

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  2. Tentei visualisar toda essa história enquanto lia e a cena apesar de cômica tem a ingenuidade do homem rústico e sua resistência ao progresso. Dirce, parabéns!! nos faz rir e refletir.

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  3. Neco e Nico são, de fato, dois amigos "porquetas", ou seja, porretas, do Amarantes. Ainda bem que não pegaram o traseiro do Bento ... Adorei! Parabéns,Dirce,pela criatividade!

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  4. Você é tão surpreendente, minha amiga, que consegue tornar poesia uma prosa que fala de porcos!!! Quanta beleza há escondida nas palavras e nas almas escolhidas para escolhê-las! Eu também devia ter rido muito com o texto, mas ando tão "outro" que acabei me comovendo com o texto.

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  5. Bonege! Via rakonto havas la charmon de autentikeco, de la brazila internlanda animo. Vere ghuinda! Mi nur imagas, se vi povus enmeti en la blogon vian vochan legadon kaj interpretadon de la teksto... Estus mirinde!

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  6. Per tiu bela, vigla rakonto komencas mia ligo al viaj poeziaj blogaĵoj. Bela teksto!

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