quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Viajando


Da janela do trem que seguia lentamente eu via
as nuvens condensadas pela baixa temperatura
das frias e inesquecíveis manhãs mineiras, pousadas
- como se dormissem – sobre o leito do Rio Verde.
À medida que o sol se abria, elas começavam a se levantar:
devagar a princípio e rápidas depois, como se, na verdade,
estivessem mortas de saudade das alturas.
Aí o rio tornava-se claro com todo o seu esplendor!

O trem corria e o rio também, lado a lado,
como uma competição. Entre eles,
os moitões de capim-navalha que balançavam ao vento,
quais verdes e viçosos cabelos da terra-mãe,
terra moça e faceira, com suave fragância de
capim-limão, rosa, jasmim, sândalo, alecrim, alfazema.

De repente, a velha máquina parava e
soltava um longo apito pelo ar...
uma espécie de até logo ao rio, como se dissesse:
- Vou aliiiiiii... Volto já já já já já...
E subia a serra alta e soberana – a Mantiqueira –
que permanecia sempre lá, desafiando
a potência da velha máquina.

Quando lá em cima, qual alpinista em
escalada de suma importância, a máquina parecia
que respirava fundo a refazer-se do esforço,
e começava a descida triunfal...
O desafio fora vencido afinal, e lá embaixo o vale lhe
acenava familiar, a partir do teto das casas,
(que vistas de cima pareciam de brinquedo)
polvilhadas em meio ao verde, ladeando o rio,
que não subia a montanha, mas a contornava sabiamente.

E quando enfim o trem atingia o vale,
as pessoas, as crianças, principalmente,
corriam de vários pontos para acenar aos que passavam.
Suas mãos espalmadas no ar, nun aceno,
era o toque ameno da ternura sempre hospitaleira
daquele povo do Vale da Mantiqueira.

3 comentários:

  1. Meu coração mineiro pegou carona nesse trem da saudade e viajou com você, emocionado! Obrigada, Dirce!

    ResponderExcluir
  2. La sentoplena priskribo permesas, ke oni imagu la scenon kvazau filmon. La sopiro pri la trajno de la infantempo... Tiu teksto povus esti komenco de bela romano!

    ResponderExcluir
  3. Que linda viagem! Quanta poesia !








































    Que linda viagem!! Quanta poesia!

    ResponderExcluir